terça-feira, 8 de dezembro de 2009

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Ser depois - Patrícia Amorim


Perdoe-me,
mas o poeta não nasce poeta.
O poeta apenas nasce
e depois, se poetiza.
Ressuscita a palavra cantando,
batendo, insistindo presença
na dor, no amor;
em seguida cuspida, pesada,
cortada e lapidada.
Perdoe-me,
mas ser poeta é ver com os olhos
ao nascer e não antes de.
É desconhecer a palavra,
ser concebido por ela
e desabrochar, depois dela.
É dançar a mente,
arrumá-la constantemente
como vício permanente.
Perdoe-me,
mas ser poeta
é não parir sem ter gerado,
é saber-se dom depois do som,
é não dizer sem ter sentido,
e não sentir sem ter vivido.
Perdoe-me,
mas ser poeta, é ser depois.

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