Não é sempre, mas vez ou outra a Comissão da Moral e dos Bons
Costumes planta um vizinho aqui em casa para nos espionar. Nós fazemos
os rapapés de praxe e o convidamos para sentar. O bucéfalo se julga o
próprio James Bond e disfarça os seus reais objetivos inventando uma
desculpa rala para justificar a sua visita. Nós, que já estamos carecas de
saber do que se trata, vestimos a fantasia que nos cabe e encaramos o
homem. Ele dá voltas e mais voltas, desconversa, mas entre um assunto
idiota e outro mais ainda ele vai jogando o seu anzol. Durante horas
respondemos às suas perguntas com bom senso e educação, servimos chá à
inglesa e condenamos com veemência a conduta de certas famílias que ele
exibe como exemplos a não serem seguidos. Terminada essa fase, o
homem nos testa ainda com outras diversas armadilhas (bem primitivas,
diga-se de passagem), esgota o seu repertório de provocações sutis – que
não revidamos em hipótese alguma –, e, num misto de alegria e frustração,
desliga o pequeno gravador guardado no paletó. Encerrada por fim a visita,
nós o conduzimos cercado de gentilezas até a porta da rua, de onde ele
parte levando para seus superiores a imagem de uma família recatada e
inofensiva. Só de pensar nestes termos nos enchemos de pavor, mas é isso
que garante a paz por uns tempos.
Costumes planta um vizinho aqui em casa para nos espionar. Nós fazemos
os rapapés de praxe e o convidamos para sentar. O bucéfalo se julga o
próprio James Bond e disfarça os seus reais objetivos inventando uma
desculpa rala para justificar a sua visita. Nós, que já estamos carecas de
saber do que se trata, vestimos a fantasia que nos cabe e encaramos o
homem. Ele dá voltas e mais voltas, desconversa, mas entre um assunto
idiota e outro mais ainda ele vai jogando o seu anzol. Durante horas
respondemos às suas perguntas com bom senso e educação, servimos chá à
inglesa e condenamos com veemência a conduta de certas famílias que ele
exibe como exemplos a não serem seguidos. Terminada essa fase, o
homem nos testa ainda com outras diversas armadilhas (bem primitivas,
diga-se de passagem), esgota o seu repertório de provocações sutis – que
não revidamos em hipótese alguma –, e, num misto de alegria e frustração,
desliga o pequeno gravador guardado no paletó. Encerrada por fim a visita,
nós o conduzimos cercado de gentilezas até a porta da rua, de onde ele
parte levando para seus superiores a imagem de uma família recatada e
inofensiva. Só de pensar nestes termos nos enchemos de pavor, mas é isso
que garante a paz por uns tempos.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário