domingo, 30 de maio de 2010

3

Isaias Faria - desconhecer-se a si mesmo (diálogo de um casal de namorados num domingo ensolarado)



- você sabe o que é uma dor irremediável ?
- nnããoo. dizia ela esparramada no sofá como se nada existisse no mundo.
- não se pode ve-la nem com lente de aumento 1000%, algo dentro, entende ? dentríssimo da gente; essa dor fulgurante e maciça.
ele em pé, parado feito um ditador dizendo.
- vai ficar aí, prostrada, ignorando...
- parece que há um vento trazendo palavras não tão frágeis nem azedas.
- pois creia que são azedas feito tamarindo, e em hipótese alguma são frágeis, e não são para donzelas!
- eu tô mais para meretriz né ?
- é, com essas pernas meio abertas pro alto do para-costas do sofá, cabelos esvoaçados, maquiagem carregada e borrada, ar blasé, minúsculas roupas.

- a dor irremediável é não encontrar a tal dita felicidade de existência.
- háá não enche!
e levanta. sai andando em direção ao banheiro.



Imagem: Soreg. Composição digital com desenho de François Dubeau.



3 comentários

flaviooffer

A angústia existencial é incompreensível aos "ignorantes", todavia, desejava eu, ignorar a tal da existência. Muito boa essa narrativa! Abraços!!!

Cássio Amaral

Parabéns para vocês e Isaias.

A escrita, tanto na poesia , quanto na prosa e a fotografia de Isaias bate e fica.

Tive o privilégio de o conhecer ano passado em BH, pena que mudei de Minas para Santa Catarina com minha esposa, e não tive o privilégio e honra de prosear com o amigo Isaias de Faria.

Quero saber como posso participar aqui com vocês com poemas, contos e prosa se puder.

Muita luz e saúde.

Grande abraço.

Editorial

Cássio,

Muito gratos.
Há na capa, na coluna da direita, um link para o 'como colaborar'. Escreva-nos, envie o material.

Abraços.