A luz apagou. Foram muitos cacos. O vento tão forte, abstrato? Sensivelmente perceptível. Foi ele quem fez isso – partiu, em mil e um pedacinhos, o lustre.
Para nada adiantava o interruptor. O corredor ficou escuro, por horas, por muitas horas. “Partiu-se o lustre! Quem terá sido?”, alguém, do andar de cima, alertava, investigava.
A chave, onde estava a chave? Nenhuma mão livre. Talvez estivesse no bolso. Na bolsa. Por perto, sem exatidão.
Uma das sacolas segurava a função das mãos e dos braços. Assim, nenhum modo de perscrutação. Lá dentro dela, o pote de sorvete que ia derretendo, gradativamente. Na outra mão, no outro braço, o peso era outro: uma dezena de copos de vidro, achados no brechó da esquina.
Colocá-los no chão eu não iria. Temia o estalar fatal do vidro, também em muitos cacos. Quem sabe? E o pote do sorvete, cada vez mais impossível, inchaço líquido que se ia fazendo. Pesado, muito pesado.
E ninguém viria socorrer. Era um corredor sem lustre. Enquanto lá fora o clima debulhava, dentro, os cacos ao redor dos pés.
Sim, e como? Era o lustre, não a lâmpada. Devia estar acesa, então, já que ela seguia intacta, pelo pouco que se podia ver. E se tivesse acesa, não seria necessário socorro algum. O depósito das sacolas no chão, delicadamente, seria feito.
Mas não estava acesa. Estava apagada. E ninguém viria socorrer.
“Como é estar à porta de casa, cansado, com suas sacolas, sem poder nela adentrar?”, acho que alguém, do andar de cima, perguntou.
Adentrar casa, ou sacola? Ninguém ouviu.
O sorvete derretou todo, e começou a pingar. Os copos, do outro lado, tilintaram com meu tremor – o corpo tenso, os braços tão cansados...
No chão, nos pés, ao redor, os cacos de vidro do lustre.
Mingau, papa de sorvete e vidro, com mais vidro por se partir: viver nessa ilha, por tempo indeterminado, é assim.
Imagem: autor ignorado
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