Desse dia em diante o garoto passou a ser meu companheiro. Acostumei com sua presença silenciosa e prestativa. Ajudava-me quando tinha algum problema doméstico, como trocar lâmpadas, fazer mercado e outros afazeres. Estava sempre ali, disposto a ajudar. Quando ia para o trabalho passava por meu escritório para dar alô. Quando voltava passava para ficarmos horas a fio conversando, ou simplesmente olhando a praça através da janela.
Certo dia estava em meu escritório trabalhando a fundo em uns processos que precisava levar ao Fórum naquela mesma tarde, quando chega a mãe do garoto tímido toda vermelha, suada, abanando-se. Sem pedir licença foi sentando em frente a minha mesa, não dando a mínima para meus funcionários que olhavam para ela sem saber o que fazer. Cumprimentei-a gentilmente. Ela foi logo falando com seu sotaque alemão carregado:
- A senhora está atrapalhando a vida de meu filho, quero que pare com isso. Não criei um homem para dar a uma pessoa que pode ser mãe dele.
Fiquei encabulada diante de meus funcionários, pois a porta de minha sala estava aberta e dava para ouvir tudo. Levantei e fui fechar a porta.
- Desculpe! – disse ela com a voz alterada – mas a senhora tem de entender que ele ainda é um garoto novo, e a senhora uma mulher quase velha.
Lembrei que realmente já tinha 38 anos. Coisa que a mim não importava muito, porque decidira ficar sozinha depois de minha separação, e prometi a mim mesma que nunca mais teria outro homem comigo. E o que fazia de minha vida só a mim interessava. A ninguém mais. E que conversa era aquela? Por que o medo que aquela senhora tinha?
O Luan era meu amigo, companheiro para festas. Por isso respondi:
- Senhora! Nem sei bem do que a senhora está falando. Mas se está se referindo ao Luan, eu o trato como a um irmão, gosto dele como tal, e é claro que ele também deve pensar assim.
- Não! – disse ela enfaticamente. Ele não pensa assim. Ele quer sair de casa para morar com a senhora. E não como irmão. Como marido.
Naquele instante fiquei sem fala! O garoto tímido? Quer ser meu marido?
- Meu Deus, senhora! Isso é um absurdo!
-Não é não. Eu já vi tudo! Ele quer mesmo a senhora como mulher dele!
- Ele lhe falou isso?
- Falar não falou, mas eu vejo, não sou burra. E não vou perder meu filho. Ele é minha aposentadoria. Criei-o para me sustentar, não vou deixar ninguém mudar isso.
Falando assim, levantou-se e saiu de minha sala pisando duro sem se despedir.
À tarde quando o garoto passou por meu escritório ao término de seu expediente, pedi a ele para esperar, pois precisava conversar. Depois que meus funcionários saíram, entrei na questão de ele querer morar comigo, sem contar sobre a visita de sua mãe. Ele ficou com os olhinhos azuis tão assustados que me deu pena.
- Por que você tocou nesse assunto?
- Porque se for isso que você quer, precisamos conversar seriamente! Sou uma mulher só, tenho uma filha, sou independente, não preciso de nada nem de ninguém. Embora goste muito de você, não sei se nosso relacionamento pode ser da forma como você está pensando.
- Nada disso importa. – disse ele – gosto de você, na verdade amo você, quero ficar a seu lado.
E seu doce olhar azul, foi ficando verde ao chegar para perto e me dar um beijo. Não um beijo de amigo, mas um beijo de amor, de carinho.
Que coisa, pensei. Nada tenho a perder, é um garoto delicado e doce. Sou adulta, “quase velha” como disse a mãe dele. Ora. Que seja. Ir para a cama com ele não vai fazer mal a ninguém.
E naquele dia, 24 de agosto, após fechar o escritório, subimos para o meu apartamento, e ficamos juntos até altas horas da noite, quando ele decidiu ir para sua casa, pois no dia seguinte precisávamos trabalhar, nós dois.
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