domingo, 19 de dezembro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo XVI

Subindo o caminho batido pelos diversos passos de tantas pessoas que iam ver o mar lá do alto, Andy achou que eu tinha algum esconderijo secreto.

– Não tem fantasmas lá em cima no velho farol, tem? –perguntou fingindo ter medo.

– Não! Tem fadas!

E a longa subida me fazia arfar, porque embora fizesse aquele trajeto muitas e muitas vezes, agora estava quase correndo e puxando Andy pela mão. Ele nem sequer demonstrava cansaço quando chegamos.

– Cara! Você é forte! A subida é cansativa e você nem aí.

– Faço academia, corrida, ando de bicicleta, jogo vôlei. E ainda namoro!

Tomou-me nos braços e me levou no colo até a beira do penhasco. Quando me soltou na grama ele me deu um longo beijo. O luar brilhava sobre o mar deixando um rastro luminoso nas águas, parecendo faíscas saltando das ondas e indo de encontro aos paredões de pedra negra.

– Que visão! Parece um pedaço do paraíso! Você vem sempre aqui?

– Sempre que posso! Nos finais de semana, geralmente.

E ficamos sem falar nada olhando o luar disputar com o farol o direito de brilhar sobre as águas.

– Vê aquela estrela? – perguntou Reika.

– Estrela? Tem um quintilhão delas lá em cima. – respondeu Andy rindo.

– A estrela Vésper!

– Você quer dizer o Planeta Vênus.

– Que seja. Você sabe que é minha estrela guia?

– Quem eu?

– Também! Mas a estrela Vésper lá em cima é há mais tempo.

– Que ciúme! Senhora Estrela Vésper, minha namorada aqui diz que não sou sua única estrela guia. Consola-me dizendo que daqui para frente serei eu o único, por favor!!!

E enquanto falava Andy colocava as mãos em prece, um joelho ao chão e o outro dobrado como se estivesse fazendo uma genuflexão. E ria muito.

Fiquei em pé olhando atentamente o mar.

– Olha Andy! Veja o barco!

– Onde?

– Vindo para a praia!

– Não vejo nenhum barco.

Então lembrei que eu podia ver no escuro. Mas Andy não possuía o dom de se unir à suas vidas paralelas. Ainda! Estou vendo o que posso fazer para mudar este quadro.

– Experimente não pensar em nada! Ouça sua voz interior e fixe seu olhar no mar.

– Me deixa raciocinar! Você é cigana, têm umas crenças diferentes, alguns truques mágicos. Acertei? Quer ler minha mão?

E brincando ele estendia sua mão.

– Não meu querido! Não tenho o dom de ler as mãos. Minha mãe tem. Sara também. Mas eu não. Agora, ver o barco no escuro eu posso porque uni minha mente objetiva à subjetiva, e com a força das duas, mais o poder de minha estrela eu tenho um poder maior.

– Minha Deusa e Fada Madrinha! Cigana doce e bela. O único poder que quero é o de estar ao seu lado e fazê-la feliz. Que mais posso querer se tenho comigo a mais linda menina da faculdade?

– Você acha suficiente? Eu ser bonita?

– Não! Eu admiro sua Inteligência, sua popularidade e a maneira como você me trata. Seu relacionamento com as outras pessoas me deixa orgulhoso. Você sabe que no campus a maioria das meninas tem inveja de você?

– Já percebi isso algumas vezes! Nessas ocasiões me entristeço porque o que faço não é para angariar elogios. Só ajudo as pessoas quando precisam. Nada mais. Acho que todos deveriam fazer o mesmo.

– Também acho. Mas o fato de sua beleza ser exuberante faz com que as menos favorecidas fiquem ofuscadas. E isso faz a diferença!

– É! Eu sei disso! Mas que posso fazer? E nem sou tão bonita assim!

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