terça-feira, 31 de maio de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo X


Quando estávamos entrando na cozinha levamos um susto com o berro do meu irmão:

- LAURA! Onde está meu livro de matemática?

- Na mesa do escritório - gritei de onde estava.

Esse era meu irmão mais velho, Guilherme, nunca encontrava nada, pois estava sempre com tudo fora de lugar. Aliás, ser desleixado era seu lema. Quando bebia um copo de água, este ficava no assoalho ao lado do sofá; se comia um bombom, o papel ficava enroladinho ao lado dos cadernos, que por sua vez estavam em desordem em cima da mesa de estudos. E era assim em tudo. Por isso estava sempre gritando para alguém, perguntando sobre alguma coisa que precisava e não encontrava.

Papai era um homem exigente nesse sentido, por esse motivo estava a toda hora tendo que falar com meu irmão, lembrando da necessidade de ser mais organizado. Mas acha que adiantava? Quando chegava de sua lida diária, papai tropeçava em algo que estava em um lugar que não deveria estar.

- Papai, cuidado com os patins... tarde demais!?!

- Onde está o Junior? Porque esses patins estão aqui? - gritou papai, sabendo que não haveria resposta.

Mais uma vez concordo com vovó sobre cada um ter que ser aquilo que quer ser, seja o que for. Por isso vou desviar os patins de meu irmão, ou pular por eles quando estiverem em meu caminho quando sair para o colégio.

No dia seguinte Aracê e eu saímos cedinho de casa para ir a costureira levar uns tecidos que papai nos dera para fazer umas roupas novas. Teríamos a festa da castração de bezerros e queríamos estar bem. Nós não conhecíamos a costureira, estávamos indo por indicação de uma comadre de minha mãe.

Chegamos ao local e ficamos admiradas. Como tudo era limpo e aconchegante. A casa era pobre, mas com uma aparência tão agradável que dava gosto.

Entramos e fomos atendidas por uma jovem senhora muito alegre e sorridente. Logo nos colocou a vontade.  Explicamos a ela o que queríamos, e como boa profissional, puxou seu caderninho e foi tomando notas das medidas que tirava.

Enquanto fazia isso, entabulou uma conversa, quase um monólogo:

- Ao meu trabalho dedico muito carinho. Cada roupa é especial. Faço tudo com amor. Coloco a mesma atenção para um vestido de gala ou uma blusinha de chita. Afinal, embora precise muito do dinheiro, trabalho porque gosto. Além disso, trato todas as peças como se fossem obras de arte, trabalhando uma de cada vez. Só após terminar uma é que inicio a outra.  Assim satisfaço a todos os clientes e consigo sobreviver com dignidade.

Parou de falar, pois havia terminado de tirar as medidas e fazer as anotações necessárias. Marcou o dia da prova desculpando-se que não podia ser antes, porque havia muito trabalho a ser feito de clientes que já estavam com provas marcadas há mais tempo.

Dissemos a ela não haver problemas, que só precisávamos da roupa para o final do mês.

Saímos da casa da moça pensando em suas palavras, pois se todas as pessoas tratassem seus respectivos trabalhos como obras de arte, fazendo tudo com amor, não haveria lugar para o desemprego. Nesse nosso mundo, tem pessoas que nunca estão satisfeitas com o que tem ou como vivem. Estão sempre reclamando de tudo. Às vezes penso como Deus faz para administrar a vida dessa gente. Deve ter um trabalhão danado, e por certo algumas vezes deve ficar muito bravo.




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