Enquanto inicio, organizando os caracteres nessa seqüência insidiosa das letras, para que você aperceba, permaneces envolta num remoinho, são suas próprias ideias, tua conectividade com as criaturas, outros seres, as tuas coisas, ou são as louças, você insiste em lavá-las. O fato de ser segunda-feira, de inverno, pela manhã, e estar fazendo frio importa – e muito. Não há estrelas no céu. Quem nega a influência dos astros, paga caro os esbarrões. Era você mesma quem me dizia das flores, dos sorrisos dos gatos, que de tão tênues, eram quase nada, que desse pouco, por ser tão pouco, apenas isso, era o suficiente, permitia-lhes a espreita. E quando perguntastes sobre as canções, lembrei-me da mais triste, o coração dobrou-se em aperto, as lágrimas correram-me a face. Onde foi mesmo que você me deixou? Em que ano estamos? Não me lembro de mim, acho que foi outro remoinho desses, atingiu-me em cheio; nossos dias passam rápidos, gira a pedra de fogo, vem a lua, vem São Jorge e o dragão, vem tudo de novo. Hoje somos nós mesmos, naquilo que você fritou, naquela panela com o alho e a cebola picados, depois botou água, sal, levou ao ponto de fervura, serviu à mesa. Revira o meu coração, derrama-o dentro do teu, manda-me um cheiro dessa alegria, louca energia, desse brilho com as mangas de fora. Guarda o meu ser estranho, por gentileza, a desvanecer-se, filigrana qualquer com as letras, ou singela dança, para você acomodá-la, num canto quente, de tuas entranhas.
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