Não interessava ao alquimista a aquisição dos segredos da vida eterna e muito menos os da pedra filosofal. Segundo ele, tudo isso e muito mais seria inútil se não pudesse concretizar seu mais antigo desejo: dar vida real aos seres sonhados pela humanidade.
Deste modo, o alquimista renunciou às vicissitudes do mundo e encerrou-se em seu pequeno laboratório. Em meio a uma confusão de retortas e serpentinas, vapores de enxofre e mercúrio, pouco a pouco foi extraindo dos elementos a preciosa substância com a qual traria à vida o unicórnio, restituiria das cinzas a fênix e assombraria o país com a imponência do dragão.
Ao cabo de longos meses de sublimações constantes, erros e acertos e testes dos mais variados graus, eis finalmente o alquimista de posse do seu rico elixir. A substância, extraída à força de um sonho, não poderia ser mais real: branca como a neve, clara como cristal, flexível como a cera.
Como ato final e decisivo, à maneira de um demiurgo, o alquimista modelou na mais pura argila as suas criaturas, e ainda outras que julgou conveniente inventar. Feito isso, derramou sobre elas o elixir, invocou os espíritos de todos os elementos e pronunciou três palavras sagradas. Neste momento, por causa de alguma falha na mistura ou mesmo por um capricho dos deuses, o alquimista se viu privado da sua forma humana, sem condições de reparar o seu erro e condenado a vagar para sempre num espaço povoado por hidras basiliscos harpias.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário