terça-feira, 17 de janeiro de 2012

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Pequenos romances




Dizer o quê?
O buquê de flores em mão fria e morta.
Dizia que não amava. Que não o amava mais. Já amara. Mas não agora, visto que o tempo de maligno e distancioso cansava os prazeres e os sabores do corpo e da alma das gentes.
E as palavras eram de rosto sem raiva, rancor  ou pena. Rosto branco de indiferença destas que tanto faz como tanto fez ou que fará. E as flores morriam no peito e na mão de tão sofredor vivente. Morrente?
Como podia? Como podia rosto-lápide dizer de tal forma tudo o que dissera? E pior. Como pudera dizer o que ficara por baixo da palavra dita. Como podia?
Devia xingar. Gritar e dizer que não merecia. Que era bom, respeitador, merecedor dos respeitos das famílias todas. Dos patriarcas às matriarcas, homem sério e de futuro garantido por diploma em escola pública dos alfabetos todos compostos, de letra em papel e discurso na língua... que já ensaiava até umas políticas. Convite não faltava. Palanque foguete e braço erguido. Nome respeitado de família e tradição.
E agora essa? Vergonha?
Era coisa de outro, que se insinuava? Corpo que se avizinhava de olhos e sorrisos maldosos, enfeitiçando as condições estáveis e amorosas dos outros? Seria outro. Homem das caras lisas e sorrisos brancos, desses de passos leves que dançam e gracejam e lisonjeiam, e piscam e flertam sem pudor?
Seriam desses que mostram que não prestam e atraem as inocências da meninas tolas, cheias de sonhos e luas nos olhos e fogo no corpo?
Se fosse era coisa de bala e revólver. Que dissesse o nome, sobrenome e procedência. Que dissesse onde, quando e como. Que a encomenda por justiça e honra já estava sendo feita.
Rasa cova e chumbo quente. Era disso que se tratava?
Não? Não era?
Era coisa dessas do coração que para desavisado de gostar e sentir carinho e seca assim sem mais. Coisa dessas que aflige os homens e mulheres. O final de todos os pontos. Secura que risca a garganta. E não há mais jeito ou forma ou maneira.
O outro já não passa de distância e lembrança. Vaga imagem que o tempo lambe e consome depressa. Com flores na mão e tudo.
E o coração? Um dar de ombros responde. Alheio. Seco. Sorriso que se esforça por transformar constrangimento em naturalidade.
E as flores?
O chão. Cova ao pé da porta que se fecha. Silêncio. Desilusão.
Um homem que corre criança. Que chora.

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