A DANÇA DOS ARCOS
3.
Alonso começara a percorrer o jardim. As flores aqueciam suas cores em nuances fortes, consentidas, explodidas em rubro e amarelo. O verde dos arbustos esquentava-se na embriaguez, enviado em matizes de películas, assentado no ombro das árvores, decidido a fixar-se ao envolvimento.
Era coisa de cismar mesmo a um divino príncipe. Antes do esmaecer, plantavam-se as coisas em torno de si, envaidecidas, ciumentas do solo e seguras do desfrute.
- Não são os planos do arquétipo, antes, a matriz que fecundou o solo. Está presente a longo tempo, apenas abre seus frutos sem o decoro das falsas faces.
E prosseguiu. Deu-se em mangas de camisa, arranjando a terra, morno e insalubre daquele gosto.
- O processo do fenômeno é causa de sua ciência. Desnuda-se quando termina o seu curso. Estamos, portanto, imersos no corpo vivo.
Deitou incensos. As noites se cumpriam bem dormidas, nem longas ou curtas, começadas e terminadas com perfeita sincronia de tempo.
- Já não flutuo, nem esvaeço. Estou estirado a meu corpo, rente de cada músculo, afinado a cada nervo. Termina a obra a sua conclusão. E seria dúvida? Persigo o movimento. Posso até desfrutar da inconsciência. Arremessado ao centro do deus serei o seu desenrolar.
E se fez. Distribuiu a lide e organizou tarefas. Primeiro que se aclimatasse o jardim. Queria-o soberbo, visto com bom gosto pelos quatro cantos. Enfim, concretizava-se.
- E aqueles fluídos de nuvens que me cobriram o cair da tarde, ao remanso dos ventos... aonde estão? Perseguem-se no templo?
Então descobriu o rio. Nos seus domínios caía como fonte, arejando um círculo de águas, quase espelho cristalino para a manifestação.
- E aquele, tão belo, serei mesmo eu? Quem tão bem me organizou a face, encheu-me os músculos de acoplado movimento, proveu-me a mente da dança das linhas e da apreensão das alternativas?
Deu-se por satisfeito. Encantou-se com o sabor das vestes da fêmea e espreitou-a com rumor até fazer um leito em seus desvios.
- Como me apetece seu cálido rosnar de dádivas, envolto em cabelos de fada esses olhos que me suspiram névoas...
Deleitou-se. Mais cumprido estendia-se o proveito, mais largo era o ângulo da sombra.
- Quando caminho ao desejo posso torneá-lo de pompas e razão. Devolve-se lúcido desde que não acorde aquém do desvio.
Consultou os mapas e os dividendos. Ainda era largo o espaço das métricas.
O cortejo dos pares começou o círculo. Nas vestes brancas distinguiu alguns dos seus enfeites. Trocaram hinos arredondados na harpa, perscrutaram as manifestações do anjo, eram variadas as entonações.
- Emcumprido-me muito mais. Sou o altar e dele me desfaço quase ao raiar da sensação. Já não sei delimitar os meus domínios. E me pergunto se de fato, existiam as medidas.
Rumou aos templos vizinhos e perseguiu seus príncipes. A cada colheita espantava-se com as demonstrações de diversidade. Era evidente que se rumava para muito além.
- Esquecerei os limites. De tanto chamá-los e firmá-los ao pé do poente acabarei por desvencilhar-me deles.
A noite estendeu-se no céu. Conversou com estrelas andarilhas, firmadas ou compactas às nuvens.
- Encaixam-se, retém da matéria a energia que perseguem e aceitam perder as que não se encantam de sua força. Depois irradiam-se, cumprimentam-se todos os dias e as que sobrevivem promovem corretos espaços entre si.
Cobriu seus espelhos. Não queria suas muitas imagens turvas. Antes, que só lhe devolvessem os armados traçados do claro das águas e flores de vento. Não era o ângulo, mas a extensão. E assim viveria.
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