quinta-feira, 15 de março de 2012

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O mistério em seis atos - Sonia Regina

Ouço os estrondos do vulcão. Após cada erupção sangro pelos poros da terra, rompo as matas e cubro estradas de cinzas e névoa.
Trabalho na disrupção dos congelados padrões de percepção e faço os sentidos saltarem, voando para além do que foi discurso. Uma revolucionária reorganização do cotidiano.
Quente, evaporo. Condenso, chovo. Lavro inférteis terras em busca da essência quase ausente.
No casulo preparo as asas amarelas da borboleta. Tenho guardados vários e caprichados voos. Alimento-me da folha perene da árvore da vida e me preparo para colher o mesmo ar puro dos corpos ligeiros.
Minha disposição é forte, explícita profissão de poética. Talvez eu seja o exemplar único de um instante efêmero decorrente da inspiração. Removo ordenações, propicio a fala do sensível e a dança do despertar.
Sem ruminar metas, aspiro subtrair-me à causalidade. O chão corre devagar e não hesito entregar-me ao suave deslizar.
Sou o mistério.







2 comentários

Jorge Xerxes

Sonia,

Ótimo Texto Poético!

"após cada erupção
sangro pelos poros da terra
revolucionária reorganização
do cotidiano
lavro inférteis terras
em busca da essência ausente
tenho guardados vários
e caprichados voos
minha disposição é forte
explícita profissão de poética
sem ruminar metas
aspiro subtrair-me à causalidade
sou o mistério"

Jorro de Inspiração!

Um Beijo,

Jorge

Anônimo

Jorge, querido,

Que bonito ficou assim, como escreveu. Parabéns!

Obrigada pela leitura sensível e pelo comentário, sempre um retorno importante pra mim.

Um beijo grande
da Sonia