terça-feira, 27 de novembro de 2012

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AQUARELA: VÔ LINO

Em qualquer hora do dia paro para olhar a aquarela com a caricatura do vô Lino, pintada em 1920, e que nos faz companhia no escritório do apartamento. Vêm as recordações... Paro no tempo e busco revê-lo na pescaria, onde a paz, o silêncio e o prazer de estar sentado numa caixa de cerveja Gaúcha, na beira do rio, expressa a sua alegria e a beleza do seu viver. Nas palavras de sua bisneta, Marina Du Bois, “Não importa como ele tenha sido conhecido até agora, ele nos reencaminha suas experiências e lembranças...” O pintor produziu a sua identificação através dos traços e cores, recontando passagens desconhecidas por nós. Ao retratá-lo, derrubou a escuridão e lançou luzes sobre uma vida autêntica, desvelando o lado que talvez só ele tenha vivido. Considerando que os “poucos” familiares que ainda vivem estão em idade avançada, pergunto quem deles se lembrará daquela paisagem como obra “viva”? Então, penso em Carpinejar que escreveu: ”Será que o domingo e o esquecimento / são dias iguais?” E, em meio a tantas lembranças em desordem, só consigo ver o tempo passar e sentir a amargura de a memória ser tão frágil e desleal. Hoje, venço a saudade e, naquela aquarela, consigo ver o seu sorriso e guardá-lo no meu viver, porque estou aprendendo a cultivar, sem alarde ou sofrimento, o desejo do coração. Pedro Du Bois, seu neto, expressa: “... Não tenho suas mãos sobre as minhas / nem sobre a minha cabeça; //... apenas alguns pontos na paisagem. //... Nela o tempo não ventava, / nem a tempestade caía. //... na vida e na morte, //... sua memória libertada / para reviver a vida / na repetição das lembranças.” Ao fazer a releitura da aquarela, consigo conversar com ela, num momento especial em que os olhos iluminam a imagem do rio em gesto de audaz pescador. Tomo-a nas mãos e sinto a história dizer, o vento soprar, a dúvida pairar e a saudade murmurar o seu nome: vô Lino.

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