Buscava algo?
Examinava sua função como
professor e aluno, como leitor e escritor e se via constituído por clichês.
Homem clichê. E sufocava. Sufocava no ar perfeitamente respirável das
instituições, das morais, das religiões, das palavras de ordem, das imagens
apelativas.
Precisava naufragar, encontrar a
fórmula de Bartleby, I woul prefer not to... encontrar este espaço de
indeterminação, de indicernibilidade. Ponto zero, mas entendia que devia
voltar. A consumição não era a resposta. Tinha de ser ambas personagens,
aquelas “originais” como queria Deleuze.
Intensidade e densidade em forma absoluta. Demônios como Ahab, que traindo
todos e tudo, enfrenta seu inimigo escolhido, ou anjos como Bartleby que sem escolher nada, colocando-se nessa
situação de impossibilidade através de sua fórmula, acaba levanto todos ao seu
redor no redemoinho de seu nada. Mas
também aquelas que vêem o abismo. Aqueles que ficam na borda como Ismael ou o
Advogado de Bartleby.
Era assim que o Leitor-escritor
buscava o naufrágio. E era assim que
pensava a educação. Via a necessidade de um grande naufrágio como forma de
relação, como forma de buscar EXPERIÊNCIAS outras que possibilitassem novas
formas de relacionamento com a instituição.
Assim como dava sentido a sua experimentação
com literatura, filosofia e educação, percebia que ainda nada se sabia do que
um corpo era capaz. O que pode um corpo?
Com muita clareza eram definidas
e canonizadas as “possibilidades” desse corpo, mas e as
ditas”impossibilidades”?
Bartleby anula-se e resiste,
criando um espaço novo, diferente, possibilitando a trajetória de uma nova
letra, letra cheia de possibilidades para significar o ainda não-significado, o
ainda não-dito. Grande nada virtual? Repleto de tudo? Possibilidades.
Ahab golpeia-se até a morte, pois
é a própria baleia. Arranca de si todos os clichês, todos os discursos e afunda
na agramaticalidade de uma língua que se criará. Língua-devir.
Mas é através dos narradores que
estas histórias são contadas, ditas, percebidas e significadas. O leitor-escritor
sabe que deverá resistir ao vórtice caótico, que deverá se despregar do mastro
da bandeira que afunda com o Pequod, pois assim como Ismael, deverá a partir
daí enxergar e fazer, significar e falar através da imagem da intensidade, na
relação com o risco, no encontro dos corpos e dos agenciamentos possíveis.
1 Comentário
Ronie Von,
Gostei Muito do seu Questões de naufrágio: Reflexivo e Instigante!
Com destaque especial para o parágrafo final.
Um Grande Abraço! Jorge
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