A imagem digital como dispositivo de apropriação dos Modos de Subjetivação: Uma leitura da imagem no videoclipe do grupo Coldplay.
"Every Teardrop Is a Waterfall"
A
imagem é discurso. E o discurso está sempre inserido no poder. Em algum
tipo de poder. Não há um discurso, qualquer que seja que se abstraia de
alguma forma de poder. Talvez o discurso "glossolálico" de Artaud. E
mesmo assim teríamos, imbutido nesse outro discurso, o poder, a
potência de uma certa resistência enlouquecida ao já dado e definido. A
imagem é linguagem. E sendo linguagem, sofre e exerce os
constrangimento do fora . É moldada e molda. Sofre as subjetivações
exercidas pelo fora, mas também exerce certa potência subjetivadora.
A
imagem, como dispositivo biopolítico serviu e serve ainda para produzir
na diferença constrangimentos que a conduzam à identidade, no entanto, a
imagem como máquina de guerra, burla os dispositivos biopolíticos e
consegue através de uma atitude ética como estética do próprio existir,
nos fazer resistir a essa massificação que essa sociedade do controle,
como diria Deleuze, pretende nos imputar.
"Every teardrop is a waterfall". Cada gota. Cada
lágrima é uma cachoeira. O próprio título do videoclipe do grupo
Coldplay parece já nos dar uma pista sobre as questões que hoje nos
causam certo estranhamento.
Primeiro
a idéia de virtual. Estaria a cachoeira contida virtualmente na gota?
Assim como a árvore na semente. Se pensarmos com uma certa boa vontade,
talvez sim. E então estaríamos já de início nos confrontando, nos
relacionando ou nos acoplando, aos conceitos que buscam nas questões da
virtualidade alguma resposta. Ou mais questões.
O
videoclipe, dentro deste contexto que nos faz pensar na congruência
entre arte filosofia e ciência, propõe uma pedra. Uma pedra que é
lançada no espelho identitário. Já não é um duplo. A imagem não é mais
reflexo. Nem representação do "real", é a criação de um outro mundo. A
imagem digital como o canto das sereias em Blanchot, produzindo o prazer
extremo do cair, que não pode ser satisfeito nas condições normais da
vida. (BLANCHOT, 2005. Pg.4)
Esta
"condição normal da vida" seria a representação. A identidade. O muro
branco-buraco negro de Deleuze e Guatarri. A imagem digital em suas
cores que já não são "reais", na sua mobilidade e metamorfose, são mais
que cópias do real, produzem simulacros que põem em xeque nossa forma de
pensar a própria imagem.
A
gota não é a gota, de tinta ou lágrima, é conexão, rizoma que produz
linhas de fuga e captura, que solidifica mas que liquidifica a realidade
na velocidade e no ritmo da voz e da canção. Mas a gota além da gota, é
além dela. É multiplicidade, é a cachoeira. Que também é gota. " Flor
que se faz pingo." Pingo que é "virtualmente" estrela e olho. Como
querem Patricia Kirst e Tania Maria Galli Fonseca.
Poderíamos
pensar no conceito de Duração em Deleuze, e pensar nos afectos e
perceptos que esta imagem produz, na forma como ela nos afeta. Um
encontro spinozista. Um agenciamento entre o olho e a possibilidade
maior da imagem. Imagem que se desloca da fixidez de uma base real e no
olho torna-se um próprio devir.
Somos
levados a pensar a imagem virtual/digital como potência imaginativa,
fruto de agenciamentos múltiplos heterogêneos entre arte, tecnologia e
ciência fundando novas interações entre sujeito e mundo, como salientam
as autoras referidas anteriormente, no entanto, também com Deleuze,
devemos estar a espreita e percebem as maquinações do poder cognitivo,
das forças de captura do estado e do poder ilimitado do Império, para
citar Hardt e Negri, pois como todos sabemos, assim como a máquina de
guerra nômade investe contra as forças do estado, o estado também
investe sobre a máquina de guerra, capturando-a e usando-a em seu
proveito.
Nesta
atualidade em que até o próprio risco de decidir é monetarizado, é
interessante estarmos atentos aos mecanismos de subjetivação estatais.
Pois nesses tempos de liquidez e velocidade assustadores, até mesmo a
transgressão acaba se tornando produto de uma indústria que a tudo
pasteuriza, dociliza e transforma em lucro.
1 Comentário
Ronie Von,
Um Excelente Texto!
Meus Parabéns; Forte Abraço,
Jorge
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