terça-feira, 13 de novembro de 2012

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Every Teardrop Is a Waterfall






A imagem digital como dispositivo de apropriação dos Modos de Subjetivação: Uma leitura da imagem no videoclipe do grupo Coldplay. 
"Every Teardrop Is a Waterfall"
A imagem é discurso. E o discurso está sempre inserido no poder. Em algum tipo de poder. Não há um discurso, qualquer que seja que se abstraia de alguma forma de poder. Talvez o discurso "glossolálico" de Artaud. E mesmo assim teríamos, imbutido nesse  outro discurso, o poder, a potência de uma certa resistência enlouquecida ao já dado e definido.  A imagem é linguagem. E sendo linguagem, sofre e exerce os constrangimento do fora . É moldada e molda. Sofre as subjetivações exercidas pelo fora, mas também  exerce certa potência  subjetivadora.
A imagem, como dispositivo biopolítico serviu e serve ainda para produzir na diferença constrangimentos que a conduzam à identidade, no entanto, a imagem como máquina de guerra, burla os dispositivos biopolíticos e consegue através de uma atitude ética como estética do próprio existir, nos fazer resistir a essa massificação que essa sociedade do controle, como diria Deleuze, pretende nos imputar.
"Every teardrop is a waterfall". Cada gota. Cada lágrima é uma cachoeira. O próprio título do videoclipe do grupo Coldplay parece já nos dar uma pista sobre as questões que hoje nos causam certo estranhamento.
Primeiro a idéia de virtual. Estaria a cachoeira contida virtualmente na gota? Assim como a árvore na semente. Se pensarmos com uma certa boa vontade, talvez sim. E então estaríamos já de início nos confrontando, nos relacionando ou nos acoplando, aos conceitos que buscam nas questões da virtualidade alguma resposta. Ou mais questões.
O videoclipe, dentro deste contexto que nos faz pensar na congruência entre arte filosofia e ciência, propõe uma pedra. Uma pedra que é lançada no espelho identitário. Já não é um duplo. A imagem não é mais reflexo. Nem representação do "real", é a criação de um outro mundo. A imagem digital como o canto das sereias em Blanchot, produzindo o prazer extremo do cair, que não pode ser satisfeito nas condições normais da vida. (BLANCHOT, 2005. Pg.4)
Esta "condição normal da vida" seria a representação. A identidade. O muro branco-buraco negro de Deleuze e Guatarri. A imagem digital em suas cores que já não são "reais", na sua mobilidade e metamorfose, são mais que cópias do real, produzem simulacros que põem em xeque nossa forma de pensar a própria imagem.
A gota não é a gota, de tinta ou lágrima, é conexão, rizoma que produz linhas de fuga e captura, que solidifica mas que liquidifica a realidade na velocidade e no ritmo da voz e da canção. Mas a gota além da gota, é além dela. É multiplicidade, é a cachoeira. Que também é gota.  " Flor que se faz pingo."  Pingo que é "virtualmente" estrela e olho. Como querem Patricia Kirst e Tania Maria Galli Fonseca.
Poderíamos pensar no conceito de Duração em Deleuze, e pensar nos afectos e perceptos que esta imagem produz, na forma como ela nos afeta. Um encontro spinozista. Um agenciamento entre o olho e a possibilidade maior da imagem. Imagem que se desloca da fixidez de uma base real e no olho torna-se um próprio devir.
Somos levados a pensar a imagem virtual/digital como potência imaginativa, fruto de agenciamentos múltiplos heterogêneos entre arte, tecnologia e ciência fundando novas interações entre sujeito e mundo, como salientam as autoras referidas anteriormente, no entanto, também com Deleuze, devemos estar a espreita e percebem as maquinações do poder cognitivo, das forças de captura do estado e do poder ilimitado do Império, para citar Hardt e Negri, pois como todos sabemos, assim como a máquina de guerra nômade investe contra as forças do estado, o estado também investe sobre a máquina de guerra, capturando-a e usando-a em seu proveito.
Nesta atualidade em que até o próprio risco de decidir é monetarizado, é interessante estarmos atentos aos mecanismos de subjetivação estatais. Pois nesses tempos de liquidez e velocidade assustadores, até mesmo a transgressão acaba se tornando produto de uma indústria que a tudo pasteuriza, dociliza e transforma em lucro.

1 Comentário

Jorge Xerxes

Ronie Von,

Um Excelente Texto!

Meus Parabéns; Forte Abraço,

Jorge