quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

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MEU ANIVERSÁRIO

“... O corpo em si revela a cor / a divisa de tinta ao tato / como quem quer apalpar o medo /como quem apalpa a dor / de envelhecer...” (Luiz de Miranda) Romeu não imaginava que Julieta teria vida eterna. Inspirada no amor deles penso nas situações do meu cotidiano, em que é pertinente lembrar as pessoas do meu aniversário. Segundo Lígia A. Leivas, “... A vida é um dom maior...eternamente / Não importa quão devastadora sejam as horas / ou quão arrebatadoras as promessas...” A vida turbulenta e a indiferença das pessoas são transtornos; comportamentos considerados não revelações, porque ressaltam a individualidade. E como tema central, com certa atenção, é possível perceber que não sobra tempo para as pessoas lembrarem o aniversário dos amigos. Além da questão sentimental, enfrento a saudades dos encontros, das festas, onde era a energia da celebração; onde me movimentava para falar e abraçar os amigos. Nas palavras de IGdeOL,“...De olhar o calendário /...De recordar o aniversário / Daquela que me trouxe a vida! // ...Para não esquecer outra vez / Deixo o calendário marcado / Para nos anos vindouros / Recolher muitos tesouros / De alegrias, ao teu lado!...” Meu aniversário: um dia sozinha. Dia sem novidades e sem notícias. Dia em que a campainha do apartamento não desperta. A refeição normal, sem balões e bolo. Um dia sem surpresas, sem presentes, sem leitura. Um dia diferente – derrubado. Dia sem música. Dia não encontrado... Como expressa Augusto de Abreu, “Mais um aniversário, / que tédio! / Mais um aniversário / sem ter nada para comemorar, / sem ter perspectiva de vida, / sem ter perspectiva de encontrar a mulher amada. / Sem ter perspectiva de ser feliz. / Mais um aniversário, / menos um dia na minha jornada, / mais rugas, / menos esperança, / mais dores no corpo, / mais cabelos brancos, / mais desejoso em voltar a ser criança.” Sábado com mais de cinquenta anos. Sinto-me trancada na minha privacidade e pressionada em meu pensamento. É meu aniversário e gostaria de não ter a sensação de um momento só meu. Entretanto, preciso acreditar na vida, sem maiores traumas, porque ainda assim tento pensar que a vida é mais importante e interessante do que o comemorar meu aniversário. Então, continuo a assistir Romeu e Julieta (pela centésima vez) que, como encontro em Luiz de Miranda, “hoje ou amanhã / o dia será / o que foi ontem /trazendo nos retratos / nas palavras / a luminosidade do tempo.”

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