quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

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O peixe que se pesca a si próprio


A propósito do excelente post de Maria do Rosário Pedreira no seu blogue horas extraordinárias:
Leiam o texto, primeiro. Assim compreenderão melhor o que vou dizer.

http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/156446.html

A escrita, seja de ficção, ensaio ou crítica literária, é uma actividade que implica solidão.Quem escreve tem de gostar ou, pelo menos, suportar a solidão. Escrita implica isolamento.
Na maior parte das actividades, o ser humano pode ver como outros, a seu lado, as exerce. Tem, em consequência, a possibilidade de aprender por repetição. Quem escreve está muito limitado. Não pode escrever por imitação. Melhor: a mimese é muito reduzida. Quando se chega ao nível estilístico, a imitação aniquila a voz própria, ou idiolecto.
Até certo grau, o mesmo passa-se com o ensino. O professor não tem um colega ao lado que lhe diga o que está a fazer bem ou mal. O professor tem somente o retorno vindo dos alunos. De qualquer forma, como conseguem ver, não está tão isolado como quem escreve.
Quando dou aulas, peço, sempre que possível, que um colega professor assista a uma ou duas ou três aulas dadas por mim. O objectivo é único: onde posso melhorar?
Na própria aula, a prática da metodologia é negociada com os alunos. Os próprios objectivos do ensino são negociados com os alunos. Pergunto-me sempre: como é que posso atingir os objectivos deles (e não os meus)? Obviamente que os meus alunos são adultos e não crianças. A disciplina é a de português para estrangeiros.
Assim, limito o isolamento e promovo a melhoria constante.
Há muitos anos que estudo literatura. O que sei deve-se, essencialmente, a professores. Sem eles nada saberia.
Tentei aplicar este método de trabalho em relação à ficção e à crítica literária. Não funciona.
Por algum motivo, as opiniões dizem mais de quem as emite do que daquilo que é avaliado. Há excepções, felizmente, mas as que há – sendo valiosas – não me permitem dizer que devo, tal qual o faço no ensino, continuar a promover a procura de opiniões.
E então como é que aprendo? Lendo, obviamente. Mas seria muito melhor que conseguisse uma opinião sobre o que é escrito e não sobre a intelectualidade da própria pessoa que emite essa opinião.
Tem sido uma aprendizagem dolorosa.
Tenho muita pena. Perdemos todos.

Mário

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