Primeiro
é a intenção do silêncio. Exige-se o silêncio. E então a necessidade de
arrebentá-lo. Mas que seja outro. Um incauto. Um de fora. De fora da sua
irritação.
Ele
vem e fala. Diz qualquer coisa. E pronto. Os olhos injetam-se de fúria. Os seus
olhos. Esperavas por isso. Explodir. Explosão. Gritar uma palavra imunda. Tão imunda
que ao saltar de sua garganta lhe passe a sensação de limpeza. Bola de pelo do
gato. Vômito.
Não
se deve docilizar a irritação. Domesticá-la. Ela exige ação. Exagero.
A
irritação precisa ser consumada em grito e fúria. Mesmo que não exista ninguém
para presenciá-la. Uma parede para esmurrar até os ossos da mão arderem.
Mas
não falo de uma mera irritação. Desconforto. Falo daquela coisa que atrapalha,
que zomba da nossa sanidade. Daquela coisa que acaba com o teu sossego, com a
tua humanidade. A concentração se desespera... o coração parece que vai parar. Um
suor começa a escorrer pela tua paciência. Afogando-a.
E
então o estouro. Duplicado, multiplicado. Quase uma fúria. Quase raiva. Vontade
de bater, de gritar. De dizer palavrão bem alto. Ofender mesmo.
Vejam
bem. Não é uma apologia a violência. Longe disso. É uma divagação. A violência é meramente ilustrativa. Quase
ridícula. Demasiada humana. Serve como caricatura, máscara de teatro para
evidenciar nossas fragilidades.
Contar
até dez não resolve. Falo de uma irritação que se instaura como um carnegão em
nossa pele. Feio, nojento, doloroso. E que deve ser expurgado, ejetado pra fora
do corpo.
Deve-se
procurar o lugar adequado. O espaço propício. O ambiente indicado. O fiasco é
sempre uma ameaça a sua reputação, ao seu status
quo.
Explodir
em lugares públicos não é aconselhável. Muita gente pode não entender o nível
de strees que te levou àquela
situação. Pode dar até polícia.
Explodir
diante dos familiares também é
complicado. Vão pensar que você é mau, ignorante e essas coisas. Lágrimas de
crianças te deixarão mal pro resto da semana. A mulher emburrada poderia
boicotar as possibilidades da carne. E aí a irritação iria atingir
patamares incalculáveis.
Com
os amigos... com alguns seria interessante. Sim. Com os que já não deseja muito
contato... mandar um deles a merda seria interessante. Depois diríamos que foi
o momento, o trabalho, os problemas...
apesar que isso já está manjada. Melhor não. Pode sobrar um soco no
olho, uma bofetada ou pior de tudo: O amigo pode querer "tratar da
relação". Aí é o fim. Aquela conversinha de "sempre fomos
amigos" e essas coisas do gênero. O nível da irritação alcançaria o
patamar. Não. Esquece os amigos. Nem eles são bons o suficiente pra a tua
irritação.
Quem
sabe o espelho. Sim. O espelho. Olhar na cara e xingar. Mas xingar com vontade.
Esbravejar. Ofender. Mandar pra bem longe, chamar pra briga. Se cuspir vai ter
que passar paninho...
Ou
escrever. Escrever acalma e faz a gente sorrir no final. A irritação se dissipa
em letra e palavra. E frase e ideia texto.
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