sexta-feira, 26 de abril de 2013

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Malabares aos ares



O malabarista e seu malabares, fogo aos ares. Sinfonia circense de rua em pleno boom urbano às 4h da tarde. Sinal verde. Ele agradece rapidamente, faz reverência às máquinas queimando petróleo, como se se apresentasse em um concerto. Vai passando pelos carros com suas mãos estendidas e gastas de tanto malabarizar, nenhum lhe abre o vidro?

Sinal vermelho. Retomada de posição, fogo aos ares sinfonicamente num con(c)(s)erto aos olhares. Não sei o que pensa o malabarista de mãos velozes e sinfonia de ares. Se eu usasse da ficção talvez pudesse lhe imprimir uma prosa intimista, uma sondagem pela alma do artista enquanto o show se ramifica pelos olhos e vidros dos que passam. Mas o que pensa o malabarista de mãos ritmistas? Que embate lá dentro causa em sua alma de artista? Que pensar se faz àquele sorrisinho de glória quando ele reverencia os carros?

Essa crônica, porém, vai só acompanhando seu malabares, a reverência e a frieza dos carros em um calor de 40º C bem dados, para 1h depois, longe do caos da avenida, dar de cara com o malabarista remexendo as mãos de artista nas sobras de lixo de uma ruela esquecida da grande urbe.


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(O bicho – Manuel Bandeira)

2 comentários

(A)tormentos Singulares

Lindo texto sobre os artistas dos faróis.
Palavras poéticas sobre uma vida poeticamente incerta. (como qualquer outra rs)
Parabéns!

Abraços!

www.atormentossingulares.com

Pablo Flora

Obrigado! pelo atencioso comentário e leitura. Vida poeticamente incerta, isso mesmo! Abraço.