O malabarista e seu
malabares, fogo aos ares. Sinfonia circense de rua em pleno boom urbano às 4h
da tarde. Sinal verde. Ele agradece rapidamente, faz reverência às máquinas
queimando petróleo, como se se apresentasse em um concerto. Vai passando pelos
carros com suas mãos estendidas e gastas de tanto malabarizar, nenhum lhe abre
o vidro?
Sinal vermelho. Retomada
de posição, fogo aos ares sinfonicamente num con(c)(s)erto aos olhares. Não sei
o que pensa o malabarista de mãos velozes e sinfonia de ares. Se eu usasse da
ficção talvez pudesse lhe imprimir uma prosa intimista, uma sondagem pela alma
do artista enquanto o show se ramifica pelos olhos e vidros dos que passam. Mas
o que pensa o malabarista de mãos ritmistas? Que embate lá dentro causa em sua
alma de artista? Que pensar se faz àquele sorrisinho de glória quando ele reverencia
os carros?
Essa crônica,
porém, vai só acompanhando seu malabares, a reverência e a frieza dos carros em
um calor de 40º C bem dados, para 1h depois, longe do caos da avenida, dar
de cara com o malabarista remexendo as mãos de artista nas sobras de lixo de
uma ruela esquecida da grande urbe.
Vi
ontem um bicho
Na
imundície do pátio
Catando
comida entre os detritos.
Quando
achava alguma coisa,
Não
examinava nem cheirava:
Engolia
com voracidade.
O
bicho não era um cão,
Não
era um gato,
Não
era um rato.
O
bicho, meu Deus, era um homem.
(O
bicho – Manuel Bandeira)
2 comentários
Lindo texto sobre os artistas dos faróis.
Palavras poéticas sobre uma vida poeticamente incerta. (como qualquer outra rs)
Parabéns!
Abraços!
www.atormentossingulares.com
Obrigado! pelo atencioso comentário e leitura. Vida poeticamente incerta, isso mesmo! Abraço.
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