sábado, 14 de setembro de 2013

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A ORDEM SECRETA DOS CONSTRUTORES DE MOINHOS





Fazendo jus ao nome, quase nada se sabe sobre a OSCM, exceto que seus membros encontram-se trimestralmente em algum lugar da peninsula ibérica para deliberações misteriosas.

Sobre o não sabido, no entanto, nunca se conjecturou tanto como agora. Simpósios são realizados, livros sobre teorias hipotéticas são escritos, documentários de duvidoso rigor científico são produzidos. Mas nada que se compare, como fonte documental, a um trecho de diário pertencente a uma amante de um dos membros, que transcrevo a seguir. Trata-se de uma única página, encontrada no porão de uma casa em Alcobaça, Portugal.

05-11-1975 - quarta-feira
Pássaro da Manhã chegou hoje. Tudo dentro do previsto. Quando me avistou na rodoviária, fez o gesto secreto e em seguida disse a senha sem titubear. Como se precisasse, depois de tantos anos e sendo ele o mentor da coisa.  Xis Ípsilon juntou-se a nós quinze minutos depois, trazendo debaixo do braço pelo menos quinze dos canudos vazios adquiridos para a operação. Disfarçamos por ali até que Calopsita se aproximasse conduzindo o basculante - o sinal para que Jota Dáblio, com seu walk-talk, instruísse os demais homens para a conclusão da Missão Beta ainda antes das onze e meia.

07-11-1975 – sexta-feira, por volta das nove da noite
Deus sabe o quanto tentei, mas não consegui conter as lágrimas ao abrir a mala com as onze diferentes perucas e as costeletas postiças. De imediato me veio à lembrança a imagem de Codorna com seu barulhento tamanco roxo, ainda um noviço na Organização. Não merecia sofrer tanto nas mãos daquele desgraçado. Lembrei da época em que ele queria sair do esquema e jurava não entregar ninguém, mas ele próprio não tinha ideia do quanto já estava envolvido. Se negava a aceitar que se metera num caminho sem volta, onde nem Papaléguas, nem Maritaca  poderiam evitar a sua (...)

O trecho encontrado termina neste ponto,  junto a uma mancha de baunilha e traços de sangue O positivo. Há quem sustente a hipótese de que a página do diário não passa de tola invencionice, forjada para despistar possíveis investigações que levassem ao desmanche da Sociedade e o acesso aos seus misteriosos rituais e objetivos. De onde se deduz que a Ordem Secreta pode muito bem não ser de construtores. Muito menos de moinhos.


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 Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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