Fazendo jus
ao nome, quase nada se sabe sobre a OSCM, exceto que seus membros encontram-se
trimestralmente em algum lugar da peninsula ibérica para deliberações
misteriosas.
Sobre o não
sabido, no entanto, nunca se conjecturou tanto como agora. Simpósios são
realizados, livros sobre teorias hipotéticas são escritos, documentários de
duvidoso rigor científico são produzidos. Mas nada que se compare, como fonte
documental, a um trecho de diário pertencente a uma amante de um dos membros,
que transcrevo a seguir. Trata-se de uma única página, encontrada no porão de
uma casa em Alcobaça, Portugal.
05-11-1975
- quarta-feira
Pássaro
da Manhã chegou hoje. Tudo dentro do previsto. Quando me avistou na rodoviária,
fez o gesto secreto e em seguida disse a senha sem titubear. Como se
precisasse, depois de tantos anos e sendo ele o mentor da coisa. Xis Ípsilon juntou-se a nós quinze minutos
depois, trazendo debaixo do braço pelo menos quinze dos canudos vazios
adquiridos para a operação. Disfarçamos por ali até que Calopsita se
aproximasse conduzindo o basculante - o sinal para que Jota Dáblio, com seu
walk-talk, instruísse os demais homens para a conclusão da Missão Beta ainda
antes das onze e meia.
07-11-1975
– sexta-feira, por volta das nove da noite
Deus
sabe o quanto tentei, mas não consegui conter as lágrimas ao abrir a mala com
as onze diferentes perucas e as costeletas postiças. De imediato me veio à
lembrança a imagem de Codorna com seu barulhento tamanco roxo, ainda um noviço
na Organização. Não merecia sofrer tanto nas mãos daquele desgraçado. Lembrei
da época em que ele queria sair do esquema e jurava não entregar ninguém, mas
ele próprio não tinha ideia do quanto já estava envolvido. Se negava a aceitar
que se metera num caminho sem volta, onde nem Papaléguas, nem Maritaca
poderiam evitar a sua (...)
O trecho
encontrado termina neste ponto, junto a uma mancha de baunilha e traços
de sangue O positivo. Há quem sustente a hipótese de que a página do diário não
passa de tola invencionice, forjada para despistar possíveis investigações que
levassem ao desmanche da Sociedade e o acesso aos seus misteriosos rituais e
objetivos. De onde se deduz que a Ordem Secreta pode muito bem não ser de
construtores. Muito menos de moinhos.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e
colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
Blog:
Email: msguassabia@yahoo.com.br
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