ALVENARIA
®Lílian Maial
Seu amor não tinha prumo: era torto,
desviado, transgressor. Rachava as colunas, ardia feito graveto em chamas,
chamuscava a tinta de sentir.
Cavava a terra e se perdia
nos desvãos da madrugada. Misturava tudo nos olhos: os versos de fundação, as
luzes de alerta, os cabelos de gesso, o néon daquele cheiro de dono...
Uma saudade em blocos
pesados de pedra, constritiva, ia tomando os músculos voluntários, os involuntários, estriados de querer,
sustentando a dor que começa no nervo da laje.
Estava em permanente
construção. Doíam-lhe os ossos, as juntas…
A cantaria torturava, os braços
eram tijolos latejantes, assentados com cal virgem e argamassa de promessas.
Descascava o reboco da ferida
aberta, que lhe queimava a razão e não deixava alisar a massa corrida daqueles
lábios.
Desabou agarrada à bola de
demolição. Destruía.
Queria cicatrizar!
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