quinta-feira, 19 de setembro de 2013

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ALVENARIA

ALVENARIA
                                          ®Lílian Maial





Seu amor não tinha prumo: era torto, desviado, transgressor. Rachava as colunas, ardia feito graveto em chamas, chamuscava a tinta de sentir.

Cavava a terra e se perdia nos desvãos da madrugada. Misturava tudo nos olhos: os versos de fundação, as luzes de alerta, os cabelos de gesso, o néon daquele cheiro de dono...

Uma saudade em blocos pesados de pedra, constritiva, ia tomando os músculos voluntários, os  involuntários, estriados de querer, sustentando a dor que começa no nervo da laje.

Estava em permanente construção. Doíam-lhe os ossos, as juntas…

A cantaria torturava, os braços eram tijolos latejantes, assentados com cal virgem e argamassa de promessas.

Descascava o reboco da ferida aberta, que lhe queimava a razão e não deixava alisar a massa corrida daqueles lábios.

Desabou agarrada à bola de demolição. Destruía.


Queria cicatrizar! 


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