quarta-feira, 26 de março de 2014

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Entre AMIGOS

Para Gilberto Cunha

Marcar encontro com os amigos é prazeroso e a conversa passa pelos mais diferentes assuntos, dos pessoais até o dos desafios do trabalho no dia a dia.
Entre amigos a troca de ideias e de informações cria situações de especulação, e chegamos à conclusão de que somos engolidos pela rotina. De que muitas vezes as ideias desaparecem; somem quando a “técnica” assume o seu lugar. Uma barreira difícil de cruzar, por que nos tornamos vítimas da rotina. Nas palavras de Arland De Souza, “Ainda não sei / o que mais me extasia: / se a crua realidade / ou a fugaz fantasia”.
Perguntamos de onde vem a inspiração neste mundo tão corrido e disputado. Não nos damos por convencidos de que o dia a dia possa interferir na inspiração que nos provoca desejos. Então, lembramos as palavras de Orides Fontela de que “A lucidez me alucina”, e refletimos com Nietzsche que “Quando muito olhamos para o abismo, somos engolidos por ele”.
Assim, somos capazes de nos enredar no cotidiano até o ponto “necessário” para termos sobrevida no trabalho. Acrescentamos também que somos capazes de sair desse emaranhado e viver a liberdade que sonhamos precisar. A vida não requer lições pré-concebidas, apenas precisamos alcançar nossa autonomia para não sentirmos frustração se não conseguirmos viver a própria ideia. Parece simples, mas ao entendermos que viver é uma grande questão, precisamos realizar que acompanhar o ritmo do cotidiano nos mantém por horas, dócil ou hostil, até que de forma mecânica não pensamos em mais nada. O peso pode ser medido de duas maneiras: palavras e livros. O interesse pela literatura mexe com o pensamento e até pode definir o nosso rumo: somos donos da nossa vida e não podemos desistir diante do nosso esforço e vontade que, por sua vez, iluminam ainda mais as nossas ideias.
O Sol, a chuva, o mar e o vento mudam as nossas vidas ao trazerem na poeira e nas gotas de chuva contra a vidraça alguns dos fatores que elevam nossos pensamentos. Questionamo-nos de quantas ideias precisamos para escrever e se somos criativos como pensamos. Ao alternarmos a ansiedade de quem vive com a cabeça sobrecarregada de informações, temos novas expressões de linguagem para a construção e a constatação das palavras, de onde recriamos as ideias. Talvez tenhamos a sensação de que criar é uma constante em nossas vidas, já que vimos que as queixas versus as novidades tendem a despertar os sentidos e os sentimentos.
No entanto, entre amigos, alguém diz, “estou vazio, sem ideias”. Difícil acreditar já que ele é escritor talentoso. Reconhecemos suas vantagens e salientamos sermos o avesso das luzes do sol; sentimos o vento trazer o pó do tempo e ouvimos histórias e casos, que nos embalam e inspiram ao som das vozes.
Buscamos inspiração para viver e sobreviver entre as quatro estações, mesmo quando as folhas caem ou quando a ação do tempo deixa marcas em nós e cobre nossas cabeças com neve. Manoel de Barros, o grande poeta de pequenas coisas, explora o simples e seu limite é transgredir na poesia. Jorge Luis Borges mostra que “a ideia está sempre ali a nossa espera, a espreita para saltar a qualquer momento”. Basta ouvir as nossas vozes ao dizer “não” ao excesso de trabalho e “sim” ao desejo de espiar o horizonte.
Encontramo-nos para tomar cafezinho, em momento convidativo para rever os livros; jogar conversa fora; escolher as cores do dia; identificar gestos e aromas; em cada instante entre os amigos sentimos o bem estar coletivo no contato que acalenta os nossos corações. Assim dividimos a alegria e a tristeza como modo de sentir a vida.


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