Essa é uma história muito antiga, que aconteceu há mais ou menos uns
2.500 anos. Naquela época, a India era dividida por clãs, que reinavam
absolutos em seus domínios. Nos palácios reais, a opulência e a fartura
contrastavam com a miséria e a falta de recursos do povo e assistência dos que
não pertenciam à nobreza e à elite da época. A vida era especialmente dura para
os párias, a última casta, desprezados pelos demais.
Foi nesse período que o clã dos Sakya comemorava o nascimento do
príncipe, filho do rei Sidodana e da rainha Maya, entre os séculos IV e V a.C.
Ele era um ser muito especial, com grande sensibilidade, e desde cedo se
mostrava extremamente curioso. Ele era como você, Jamal, vivia perguntando: por
que? Mas por que?
- Mas, papai, como o senhor sabe de tudo isso?
Ravi olha para o filho Jamal, sorri e lembra do seu tempo de meninice,
quando também contava oito anos de idade e queria saber de tudo.
- É que o rei e a rainha, intuitivamente tinham muito medo que ele se
desencantasse com o mundo que existia além das muralhas do palácio, e por isso
o mantinham dentro dos muros do palácio... O astrólogo da casa real havia
previsto que o menino despertaria para a sua missão espiritual, de levar Luz às
pessoas.
O menino coça a cabeça, não completamente convencido com a resposta
dada pelo pai.
- Como assim, pai, ele levava uma lamparina com ele?
- Há ha há! Você acertou, de certa forma, Jamal,
mas não é desse tipo de “Luz” que estou falando. A iluminação é espiritual, de
clarear o caminho para as pessoas, para que possam identificar as melhores
escolhas de vida, entende?
- Hmmm, estou começando a entender, pai...
- Pois é, Jamal... Mas
teve um dia que esse príncipe, já casado e pai de família, insistiu tanto com
os empregados que eles o conduziram além dos limites do palácio, e a partir
daí, tudo mudou!...
- Conte, conte, papai!,
respondeu Jamal, com os olhos brilhantes de expectativa.
- O príncipe, que vivia preso no palácio, onde nada faltava, conheceu
os quatro sofrimentos básicos que todos nós passamos, ao ter contato com a
população sem recursos, como os mendigos que a gente encontra na rua, filho...
Ele conheceu o sofrimento que se passa ao nascer, envelhecer, adoecer e morrer,
e isso o deixou extremamente angustiado e infeliz. Viu o desespero com a falta
de comida. Constatou o sofrimento causado pela doença, as condições precárias
que a população vivia... E por último viu uma pessoa morrer, e a dor causada
pela sua partida... Ele chorou muito, e a partir daquele momento, uma profunda
transformação aconteceu dentro dele.
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