terça-feira, 17 de março de 2015

0

O ENIGMA, Rui Tinoco

O papá e a mamã andavam bastante tristes. Iam todos os dias para o hospital, mas as notícias não eram boas. A doença do avô teimava em não passar. Lembro-me depois de um telefonema: a mamã desatou aos gritos e o papá foi para a varanda fumar.
Nesse dia dormi na casa de umas primas. Diverti-me imenso mas queria estar triste, não sei porquê.
Quando regressei a casa, o avô não estava e ninguém queria falar na sua doença. Chegaram-me a gritar quando insisti um pouco mais sobre o assunto.
Costumava brincar no escritório do papá. Reparei então num estranho vaso de pedra escura. Estava no cimo de uma estante. Parecia imensamente pesado. Perguntei à mamã o que aquilo era, ao que ela respondeu em voz alta:
- Vês, vês… agora responde-lhe tu… - mas o papá saiu de casa visivelmente perturbado.
Nessa tarde consegui subir a estante e abrir o vaso. Sem ninguém ver pus uma mão lá dentro: um estranho pó cinzento, de cheiro intrigante, meteu-se-me entre os dedos.

É hoje: o papá vai ter de me explicar o motivo de todo o alarido por causa de um simples pó.
*
Saiba mais sobre o autor aqui

Seja o primeiro a comentar: