segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

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Pequenas histórias 183

Ruan estava



Ruan estava se sentindo como o personagem do Selton Mello, Lourenço no filme O Cheiro do Ralo. O cheiro fétido que todos sentiam, Lourenço se desculpava dizendo que era do ralo e não dele. Só que ninguém dizia para Ruan que ele fedia, ou que estivesse fedendo, talvez por delicadeza, para não ofendê-lo. Deduzia que somente ele sentia o seu fedor, e isso quando precisava fazer suas necessidades fisiológicas. Quando estava nos limpamentos ao ver suas impurezas escorrendo pelo ralo, ops, quer dizer, pelo esgoto do vaso sanitário, isso o deixava meio deprimido, pois não era do seu feitio negligenciar a higiene corporal. Tomava banho todos os dias, às vezes até três vezes ao dia, quando possível, e quando não podia se enchia de perfume, desodorante, e dos melhores, não gastava seu rico dinheiro com produtos inferiores. Então porque se sentia fétido? Não era do vaso entupido que demorava a engolir suas impurezas, não era. Era dele mesmo, percebia. Estaria se deteriorando lentamente? Credo!
Deu risada. Pelo que ele saiba estava usando aparelho auditivo e não aparelho olfativo. Será que sua deficiência auditiva aguçou a olfativa? Riu para o espelho que lhe mostrava sua face de todos os dias. Face que ainda não se acostumara com ela. Bom, de duas uma, ou ele estava mesmo se desintegrando fetidamente ou então, o que era o mais provável, o mundo é que estava fedendo e não ele. Considerou a segunda hipótese, o mundo é que estava mesmo se desintegrando na merda de todos os dias. Apagou a luz e saiu do banheiro se preocupando com outras coisas mais interessantes.


pastorelli

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