Não tendo a paciência de uma dor, qualquer que seja, da mais insignificante até
a mais pavorosa, incrustada no rosto, na face, no peito, nas costas, na
virilha, onde for física ou abstrata, audaciosa ou acanhada, ela, a dor, faz
parte dos seus passos, em pequenos atos delineados pelas quadriculadas divisas
das chapas de cimento da imensa calçada.
Distraído, inconsequente, chuta, às vezes pisa,
em pequenos nacos de carnes espalhados em determinados cantos e marquises dos
edifícios mortos, onde os vivos se refestelam na carnificina a ostentar, com
orgulho, a coleira de prisioneiro oito horas por dia.
Detestando a dificuldade, filtra na pele da mão a raiva intempestiva recolhendo
a mágoa como quem bebe, a doce e refrescante água, que escorre entre os dedos
da mão em concha.
E chora a dor do sofrimento, sangrando acordes
cuja música se infiltra em seu ouvido ensurdecendo-o momentaneamente da
realidade.
Assim, se fecha no intricado labirinto da angústia a espera da morte.
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