Ontem como sempre faz, sem pressa e, também ter pressa no meio dessa multidão é
coisa de doido, portanto, no seu ritmo, como diz uma das propagandas do metrô:
cada um tem o seu ritmo, isso referente às escadas rolantes, ele se postou
atrás de todos a espera do metrô. Quando esse chega, o pessoal vai entrando e,
às vezes ou sempre, o vagão lota e assim ele fica para o próximo bem na frente,
bem na faixa amarela que é a sua segurança. E aquele dia foi igual. O povão
entrou, ele parou na faixa amarela, mas quando o povão começou a se mexer no
momento em que a porta abriu, surgiu uma mulher, baixa meio gordinha pele mais
para escura do que branca sem ser de cor, parou na frente dele, isto porque, o
aviso sonoro a fez retardar o passo. Ele, teimoso, não arredou pé, ficou ali
encostado nela, quer dizer, ela que se encostou a ele, e deve de ter sentido os
dedos dele que segurava a pasta alisando a bunda mole dela, tanto é que aos
poucos ela foi desviando e saiu da sua frente. Mesmo assim, sentia a pressão da
carne da coxa contra seus dedos. Pouco se importou. Quando o metrô parou e a
porta foi aberta, a mulher entrou como um rojão, pois, talvez como ele, viu o
lugar no banco cinza, e para lá ela se precipitou. Ele foi atrás dela, não tão
precipitadamente, mas teve a intenção de surpreender a mulher e sentar
primeiro, mas não foi possível. Isto porque, ela pediu licença para o rapaz por
um lado e ele foi pelo outro lado e, sendo ela a primeira, o rapaz deu passagem
para ela. Ele se postou no outro lado, mas nem bem ela sentara com sua bunda
mole, viu-o e ao mesmo tempo, levantou-se cedendo o lugar para ele.
- O senhor quer sentar, perguntou num sorriso
de quem diz: droga de velho!
- Claro, por favor, respondeu ele rindo por
dentro.
Isso não acontece no fretado.
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Voltava do recital de todos os sábados. Eram umas onze horas e qualquer coisa,
pensou mal olhando o relógio. O recital tinha sido proveitoso. Apresentou
seus textos que foram bem acolhidos, todos gostaram, pensou. Leu três poemas,
dois contos e uma crônica. Tinha sido bom afinal.
O vagão estava nem cheio e nem vazio. Como não
era o último metrô, a maioria dos passageiros era de rapazes e moças que vinham
de baladas, passeios ou sabe-se lá o que. Casais abraçados sonolentos um se
apoiando no outro. Grupos de rapazes aqui, grupos de moças lá, no meio uma
turminha toda de preto em conversas animadas. Uma ou outra pessoa mais idosa,
raros que com os olhos de peixe morto, sonolentos não viam à hora de chegar a
casa. Em frente a ele, quer dizer, na porta oposta, estava um grupo de rapazes
entre seus quinze a dezoitos anos, eram mais ou menos uns cinco. Dois deles
conversavam sem que pudesse entender se amistosamente ou se estavam trocando
insultos, pois, de vez enquanto um dava um empurrão no outro que mais parecia
um afago do que qualquer outra coisa. Não conseguia distinguir o que
falavam, ouvia o timbre de suas vozes, mas tudo embolado com o som do metrô, a
voz do alto falante, risadas, como uma coisa só. Observava-os com curiosidade,
talvez dessa observação pudesse, mais tarde, quem sabe, criar um conto ou
crônica. Observava-os por serem eles que mais chamavam a atenção. Percebia que
a cena ficaria armazenada no subconsciente.
De repente, sem que ninguém percebesse, um tapa estalou no rosto de um dos
rapazes. O que recebeu o tapa revidou com um murro, e, logo em seguida rolavam
pelo assoalho do vagão. Os amigos, assustados, ao invés de separarem, se
afastaram, deram mais espaço para os briguentos. Ele levantou, tanto pelo
susto, pois vieram para o seu lado, e também, estava chegando à estação em que
iria descer. Pensou em retirar a arma e registrar a cena, porém, preferiu
deixar cair o celular no fundo do bolso da calça jeans. Não sabia o que poderia
acontecer meio embriagado era capaz de perder o celular ou sabe-se lá o que,
não é? Quando descia, quando seus pés pisaram na plataforma, ouviu alguém
gritar:
- Vocês que são amigos não separam eles, não?
E ao mesmo tempo, passaram por ele, quase o
derrubando dois seguranças que entraram no vagão e puxaram os briguentos para
fora. Como era tarde, corria o risco de perder o último ônibus não esperou para
ver o final da história.
Isso não acontece no fretado.
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