Em uma ocasião quando ela percebeu meu trabalho de limpeza, disse: ‘Aí está toda minha vida’, referindo-se à caixa de sapatos. Bem, devo entregar à direção, eles saberão o que se deve fazer, não tenho direito de mexer no que não me pertence.
No mesmo dia chegou outra senhora, essa ainda bem jovem, se comparado com suas companheiras de quarto. Ocupou o leito de Carlita. Doeu meu coração porque eu realmente me apegara àquela figurinha quieta, gentil, meiga e sozinha.
Uma semana depois do ocorrido fui chamada na direção. Quando entrei na espaçosa sala da diretora e fiquei por alguns minutos esperando, lembrei que durante todo o ano que vivi ali dentro, nunca passei das portas da enfermaria, do jardim ou do refeitório. Fiquei sempre lá nos fundos, junto de minhas três pupilas. Percebi que havia me apegado demais àqueles seres abandonados, e esqueci que havia vida fora dali. Olhei pela grande janela e vi o jardim onde tantas vezes levei minhas moças para passear. Senti saudades de Carlita.
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