Antes de ir para a casa de Reika passei na praia. Não fui até a areia, andei só pela calçada para não estragar a bonita sandália que estava usando. Ao longe vi Sara e Miguel em seus afazeres de ganhar o pão de cada dia. Continuei andando pela calçada, contornando a praia em direção à casa de Reika. Miguel me viu e acenou. Fiz sinal que estava indo na direção da casa de Reika. Ele deve ter entendido porque assentiu com a cabeça, e fez sinal que logo iria para lá também. Bem devagar, prossegui olhando as gaivotas saírem do morro e sumirem no oceano. Sentia a brisa do mar em meus cabelos, e a saia rodada que vestia fazia voltas em minhas pernas. Todos os homens que passavam olhavam, assoviavam ou jogavam beijinhos. Era domingo, então havia uma grande quantidade de turistas por ali. Quase sem perceber cheguei ao caminho que levava da praia à casa de minha amiga. Segui por ele, mas estava irregular e com pedras, precisei tirar a sandália antes que a estragasse para sempre. Cheguei em frente a casa de Reika e tornei a colocar as sandálias. Toquei a campainha do portão e dona Valey atendeu. Ao ver quem era gritou lá de dentro da casa:
– Entra Vanessa!
Ela abriu o portão e entrei.
– Boa tarde menina!
Era o Andras, pai de Reika, todo paramentado para ir à praia.
– Já estava saindo, fique à vontade. Reika deve voltar logo.
– Ela não está? – perguntei decepcionada.
– Ela saiu cedo com Andy, mas nem ligue pra isso, entre e espere daqui a pouco ela volta.
E rindo alto ele saiu para dar seu mergulho na praia. Dona Valey veio e disse:
– Vanessa, André está estudando no quarto, ele tem prova amanhã, então preferiu ficar em casa. Vá até lá. Preciso dar uma saidinha, mas volto logo, fique à vontade.
Pedi desculpas e disse só ter passado para dar um alô, mas que já estava indo também. Saí junto com dona Valey, que me ofereceu uma carona caso quisesse voltar para minha casa.
– Não obrigado dona Valey! Vou passear mais um pouco pela praia.
Quando dona Valey saiu, tirei novamente a sandália e subi pelo caminho de pedras que levava ao farol. Subi lentamente, desviando as pedras que podiam ferir meus pés. Quando cheguei ao alto respirei fundo, aproximei-me da beira do morro, no lugar onde Reika e eu vimos o barco espatifar-se contra as rochas. Fiquei olhando para as ondas que quebravam com ruído forte nas pedras lá em baixo. Tão absorta estava que não vi Renan aproximar-se, e assustei-me quando ele falou:
– Oi, querida! Olhando as águas espumantes?
– Nossa! Que susto você me deu!
– Querida! Desculpe não quis assustá-la! Venha! – disse ele – vamos dar uma olhada do outro lado do farol.
Seguimos pela beira do morro até o farol, contornamos a construção e chegamos do outro lado. A vista era fantástica. Olhando lá embaixo vi o barco que no dia anterior passei por ele. Aqui de cima parecia muito pequeno. Ao lado do barco estava uma pessoa, firmei a visão mas não pude perceber quem seria. Renan falou:
– Olha! Tem um caminho ali.
E puxando-me pela mão fomos descendo a encosta pelo caminho que Renan vira. Em meio à descida notei novamente a pessoa lá embaixo, estava de joelhos ao lado do barco, parecia chorar. Fiz Renan parar a descida e apontei sem falar nada para o barco lá em baixo.
– É uma mulher! – falou ele.
– Sim! Já vi essa mulher outro dia.
– Que estará fazendo?
-Deixa prá lá! Vamos voltar! – falei e comecei a subida de volta. Renan me acompanhou.
Achei que a mulher queria privacidade, parecia estar chorando ou orando, sei lá! Era melhor não atrapalhar. Contornamos o farol e sentamos na pedra que parecia um banco. Ficamos em silêncio olhando o mar e então Renan falou:
– Querida! Preciso ir. Vou deixá-la em sua casa e depois tenho algo a fazer. Você se importa?
– Não Renan! Não me importo. Pode ir. Só que eu vou ficar aqui. Vou esperar Reika voltar, quero conversar com ela.
– Vai ficar tarde para ir sozinha de volta para sua casa.
– Não fica não! Fique tranquilo, qualquer coisa peço para alguém me levar.
– Olha minha Princesa! Vou ficar preocupado em deixar você aqui!
Ri da preocupação dele e falei:
– Dezessete anos vivi por aqui por essas praias vendendo coisas e nunca nada de grave aconteceu. Por que iria acontecer algo agora? Vai cumprir suas obrigações que vou ficar bem.
Ele olhou em meus olhos e disse:
– Vanessa! Você anda estranha! Aconteceu algo que eu ignoro?
– Não Renan! – falei quase com impaciência – Vai tranquilo, estou bem e não existe nada que possa preocupar.
Ele levantou devagar do banco, deu-me um beijo rápido e foi em direção ao caminho de pedras. Fiquei olhando o gingado dele ao caminhar e então corri e lhe dei um grande abraço e um beijo gostoso.
– Até depois! – falei – quando chegar ligo para você.
Ele desceu o caminho olhando várias vezes para trás e jogando beijinhos com a mão. Na verdade ele é um homem bonito, cheiroso, mas percebo que já não estou tão empolgada como no início de nosso namoro. Já não o considero mais o meu Deus Grego! Por que será isso?
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