quinta-feira, 10 de março de 2011

0

Os Ciganos - Capítulo XXX


O mês de Janeiro passou e nem vi! O carnaval está se aproximando e as praias estão ficando super lotadas. Para Miguel e Sara é o filão de ouro! Fazem a féria todo dia. Também! Só pode! Trabalham os dois até de madrugada sem descanso verdadeiro!

As pessoas no carnaval ficam muito doidas. Bebem o que podem e o que não podem, fazem loucuras, algumas até estragam suas vidas para sempre, em nome da diversão.

Na terça-feira, uma semana antes do carnaval, fui até a praia para ver o movimento de alguns trios elétricos que já estavam lá, desfilando com seus sons com todos os decibéis disponíveis a todo vapor. Turistas de todos os tipos e nacionalidades se apertavam atrás desses trios elétricos. Fiquei na calçada em frente aos bares olhando. O barulho era tanto que nem percebi Reika e Andy se aproximarem.

Reika perguntou aos berros:

– Viu Sara ou Miguel por aí?

Sem demonstrar o susto que levei, falei:

– Não! Cheguei faz pouco tempo.

– Estamos à procura deles – disse Andy – e não os vimos em lugar algum.

E aí toda ufana falei:

– Passei no vestibular!

Meus amigos me abraçaram e riram comigo me felicitando, enquanto dançávamos felizes na areia.

– Seremos colegas de faculdade então! – disse Reika.

– Sim! – falei quase gritando, porque nesse momento um trio elétrico que passava na rua, abafava qualquer som possível e impossível.

Ficamos calados olhando uma cantora se esgoelando e dançando, enquanto o populacho seguia hipnotizado o rumo do carro colorido.

Nos entendendo apenas pelo olhar, descemos pela areia até a beira da água. Nem dava para ouvir o barulho das ondas com a balbúrdia do som. Reika e eu tiramos as sandálias e caminhamos pela areia molhada, atrás de Andy, que de vez em quando se abaixava e jogava um punhado de areia para o mar. Reika fez uma mímica com as mãos dizendo que o amava muito. De repente ela correu e o abraçou pelas costas, os dois perderam o equilíbrio e caíram na areia, enquanto a multidão de pessoas que lotavam a praia nem percebiam nossa presença. Alguns tentavam pegar um bronze, outros tentavam jogar frescobol, mas nem uns, nem outros conseguiam seu intento. Havia muita gente por ali!

Continuei andando e logo Reika e Andy me alcançaram. Seguimos em silêncio em direção ao único local que poderia estar menos tumultuado há essa hora. O farol! A distância era grande de onde estávamos até o farol, mas nós não tínhamos pressa.

Quando nos aproximávamos das pedras que ficam embaixo do morro, próximo ao caminho da casa de Reika, vimos um movimento inusitado para os lados onde ficavam os barracos de Miguel e Sara. Andy curioso direcionou-se para lá e nós o seguimos.

As lonas amarelas, que funcionavam como telhado nos barracos dos ciganos, estavam jogadas na areia junto com todos os pertences de nossos amigos, e o local onde era a moradia deles agora era um caos. Parecia que um vendaval ou furacão havia passado por ali. Reika correu seguida por nós. Duas pessoas olhavam para as coisas espalhadas. Andy perguntou:

– Vocês viram quem, ou o que fez isso tudo?

– Não! – respondeu um rapazola com cara de gringo – quando chegamos já estava assim.

Reika revirava as coisas e Andy falou:

– Não mexa em nada, querida! Algo me diz que isso tem muito mais do que aparenta.

Reika parou e ficou olhando para Andy e eu sem entender nada. Nem eu estava entendo nada! Andy pegou o celular e fez algumas ligações enquanto Reika e eu olhávamos as coisas espalhadas. Eram todas as poucas coisas de nossos amigos, roupas coloridas, alguns utensílios de cozinha, nada mais.

– Onde estarão eles? – perguntou Reika sinceramente preocupada.

Seja o primeiro a comentar: