domingo, 6 de março de 2011

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ROLETA


...a  matéria estava toda condensada e então houve o Big Bang.
Gozei forte, de olhos fechados no rabo dela.
Ela me falava da pequenez das nossas vidas. Da pequenez dos astros e do nosso amor de ontem.
Criou-se o universo, embora imensurável, o universo é composto de um número limitado de matéria. Não é infinito, o Universo. Já o tempo...
- Eu não consigo abrir as mãos. - ela disse e nosso amor estava todo condensado como um amendoim na palma da mão dela.
A matéria se combina das mais variadas formas. Imaginem que a combinação perfeita de átomos, de moléculas, de letras, números e partículas tivesse nos levado, ela e eu,  àquele momento. Todas as coincidências, todos os acasos tinham me levado até ali, até aquele quarto, àquele final, àquele rabo maravilhoso que agora eu perdia. Perdia? Difícil. Eu sou o Deus deste mundo.
- Eu ainda te amo, mas não quero mais te ver... nunca mais...
O casal de gatos dela brincava no tapete. Não são inocentes (os gatos nunca foram inocentes) carregam no olhar o brilho de quem conhece todo o mistério. A crueldade faz parte do amor dos gatos. Já meu cão, meu cão tinha o coração puro, era todo ternura, mas não sabia. Ele, meu cão. Os gatos sim sabem de tudo aquilo que é pra sempre no tempo. O princípio e o fim de um rio ainda é o mesmo rio, eles diziam pelo olhar, os gatos. Filhos da puta.
Haverá trilhões e trilhões e trilhões de combinações, eu sei. Mesmo essa combinação de palavras já existe e tornará a existir depois que se for. Os átomos dançarão sozinhos, farão surubas imensas, os átomos. Juntar-se-ão... Perder-se-ão. Durante o inimaginável do tempo, eles vão se unir e se separar. A matéria vai continuar a se expandir e expandir, mas depois vai voltar a condensar e condensar de novo até o mesmo grão de antes do Big Bang. Nada de novo sob o Sol, como disse Salomão. E então o mesmo casal de átomos vai se encontrar novamente e dizer sim e todas as combinações tornarão a se repetir na noite imensa do Tempo que não é um rio, mas uma rocha, uma serpente devorando o próprio rabo. Dejà vu. Um carrossel incessante que gira e gira para delírio de Deus.
- Vai embora agora... Ela diz, puxando o lençol... por favor saía de vez da minha vida...
Eu limpo, na ponta do lençol branco, o pau sujo de merda e porra. Um cu contem o mistério do mundo. O buraco negro, como o próprio nome diz, é o cu do Universo. É lá que está a resposta, se é que há alguma resposta.
Eu me levanto. Sou o demônio. Um demônio de mármore. Toda maldade me é sensual. É no sexo mais depravado que eu, o Demônio de mármore, vivo. Por isso Buda, Cristo e todo o resto tentaram ficar longe da carne, porque a carne é o sexo e o sexo é o mal,  quanto mais sujo melhor.
Agora ela chora. Os gatos continuam brincando no tapete do quarto. Tudo isso se repetirá infinitamente. Embora grande, continua a ser uma gaiola, essa na qual nos debatemos. Estamos presos, como o corvo no laboratório de Paracelso. Meu pau ainda fede. Não me importo. Cheiro de merda me excita. Eu abandonaria a crueldade por ela, mas ela não acredita mais. Gaviões, tigres, leões e lobos me esperam lá fora. Eles sabem que sou um deles. Eu posso me transformar em tudo o que quiser, basta imaginar. Os gatos se arrepiam quando me aproximo deles. Acaricio a vagina da gatinha e o pênis do gato. Toda perversão me agrada, mas ela não para de chorar.
- Vou embora hoje. – Digo para consola-la – Mas amanhã voltarei da mesma forma que ontem. Divirta-se um pouco enquanto me espera. - Ela não levanta a cabeça do travesseiro.
Caminho até a janela... abro minhas asas... entoo um ditirambo... os bichos peçonhentos me esperam no leito da floresta. As plantas murcham quando passo. Meu lar é a ruína. Se fosse eunuco, seria um anjo de luz. Toda maldade é sensual.

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