segunda-feira, 25 de abril de 2011

0

A Dama do Metrô 39







O sol batia na janela quando Malu acordou. Luciano deitado de borco, abraçado à perna de Malu, com a cabeça debaixo da coxa esquerda, parecia não querer acordar. Malu retirou a perna de cima da cabeça loira, e com o pé, sacudiu Luciano, que ao se virar para o lado esquerdo, caiu da cama. Sentada, divisou o olhar pelo quarto. Os dois rapazes dormiam um em cada poltrona, a mulher... bem, o travesti sentado no chão com a costa apoiada à parede, olhava para ela com cara de tédio. Sorriu ao vê-la acordada. Malu desviou os olhos.
Escorregou para a beirada da cama. Luciano ainda dormia no chão frio do assoalho.

- Acorda, Luciano, vamos acorda.

Sonolento, bocejando álcool fétido, o bafo foi de encontro ao rosto dela, obrigando-a a fazer uma careta de nojo.

- O que foi?

- Não vai levantar, não?

- Vou... espera, quero tomar um banho.

- Também quero tomar banho.

Entraram os dois no banheiro fechando a porta.

- Então, você quer saber como começou tudo isso?

- Sim, quero.

- Bom, meu pai é um cara demasiado liberal.

- Eu sei disso.

- Pois é, sei que você sabe. Foi ele que me trouxe para cá. Venho observando os dois há tempos. Desde o primeiro dia que você pisou o consultório do velho.

- Como assim?

- Ao lado do consultório tem uma sala pequena, onde meu pai às vezes observa os pacientes. Deixa-os por minutos sozinhos e por intermédio do espelho, aquele grande do lado esquerdo, observa o comportamento dos pacientes.

- E você...

- Sim, eu observava suas transas.

- Mas isso é um despudor inconcebível!

- Pode não ser ético.

- Seu cretino, como odeio você...

- Como você pode me odiar se me deseja.

- Quem lhe disse isso?

- Meu pai.

- Seu pai...

- Sim!

- Mas eu nada revelei a ele.

- Lembre-se que ele é psicanalista e dos melhores, apesar desse seu liberalismo às vezes descarado.

- Canalha.

- Quem? Eu ou meu pai?

- Os dois. E assim, os dois se divertiam as minhas custas.

- Garanto que sempre a desejei. Meu pai que veio com o plano de observá-los, pois ele se excita sabendo ser observado, entende?

- Vocês dois são mais paranóicos que eu.

- Bom, o caso é o seguinte: consegui e você conseguiu o que queria. Estarmos os dois juntos. E o que é melhor, dentro da banheira.

- Concordo. Mas depois dessa creio que não vou querer te ver mais e nem seu pai, por um bom tempo.

- Não faz isso, sei que gostou de mim como gostei de você.

- Veremos, veremos – respondeu Malu saindo da banheira.

Seja o primeiro a comentar: