domingo, 1 de maio de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo IV

Às vezes, quando estava subindo em algum galho mais alto que o costume, lá vinha Seu Pedro:
- Cuidado minina! Desce daí que o gáio quebra e ocê cai que nem fruita madura.  Seu pai vem aí! - ameaçava.
Seu Pedro tinha sido peão na lida do gado em sua juventude. Mas depois de ficar velho e meio capenga, preferiu ajudar Luiz, o jardineiro contratado como profissional, e cuidar dos jardins e do pomar. Às vezes ele dizia:
- Home que é home não se aposenta. Trabaiá sempre até não podê mais! E cuidá de frô e de fruita é comigo memo.
E era verdade. Tinha um cuidado tão especial com os jardins e o pomar, que deixava Luiz, o profissional de jardinagem, no chinelo. Estava sempre dando ordens para o Luiz:
- Cê pega a enxada e o estrume e vamo lá. Tá na hora sô.
E lá iam os dois para cuidar das florzinhas e das frutas com todo carinho.
De vez em quando, Seu Pedro ia ajudar no curral com as vacas leiteiras, ordenhando, apartando os bezerros das mães, colocando o milho nos coxos de madeira onde as vacas se alimentavam. E dizia como se desculpando:
- Mata a saudade. Esse bicho pega a gente.
Com isso pretendia explicar que viciava lidar com gado e que sentia saudades do tempo de peão.
Era casado com Dona Maria nossa cozinheira, e os dois tiveram toda a sua vida trabalhosa ligada a nossa família. Desde seus dezoito anos que Seu Pedro trabalhava com meu pai, e Dona Maria desde que se casou com Seu Pedro, isso já há vinte anos. Os dois se pertenciam, como dizia Dona Maria sempre que alguém falava na felicidade deles. Nunca tiveram filhos, era a isso que ela se referia, os dois viviam sós na casinha que lhes foi destinada, próximo ao "meu" riacho.  De meu posto na barranca vendo os peixinhos, ou no meu balanço de pneu, eu via a casinha branca com janela vermelha.
Seu Pedro e Dona Maria estimavam muito toda nossa família, mas tinham um amor especial por mim. Diziam sempre:
- Essa minina é nosso dodói!
Todo doce mais caprichado, ou bolinho da graxa mais gordinho coberto com canela, era reservado, e quando aparecia na porta da cozinha lá vinha dona Maria:
 - Tá aí, minina! Toma e não recrama.
Assim, minha infância ia de vento em popa, e se não fosse a bronquite que às vezes me incomodava, era muito feliz.

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