domingo, 28 de outubro de 2012

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“a caça de amor é de altanaria” - Gil Vicente, Rui Tinoco

o caparão cobre os olhos
de um negro primordial:
é desse lugar que nasce
toda a história. é o próprio
espectáculo do mundo, a sua
luz, que desperta os sentidos
e faz com que as asas se abram.
agora é apreciar o voo de espera,
a sabedoria de destrinçar,
no pequeno novelo do agora,
o agir e o adiar; o desprezo,
a súbita precipitação.
o falcão preia no ar a ave
que insistia na inocência azul
assim o coração dos homens
e das mulheres é ferido pelo
amor… o resto não é tão
visível: as garras extraem
do corpo vencido a ternura,
provocando inconsciência.
não se percebe então por que
motivo o falcão regressa ao punho,
entrega a presa,
recebe de novo, no caparão,
o breu do esquecimento.

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