Espelho,
espelho meu... Bete, uma garota ruiva, cabelos cacheados, rosto metade jovem, outra metade envelhecida, ela pode ser
uma espécie de bruxa, só que sem a necessidade de perseguir a Branca de Neve,
satisfeita consigo, ela deseja do objeto que a reflete apenas a cumplicidade
silenciosa do reflexo de sua imagem, mas há uma longa travessia até que ela
chegue a este ponto.
Como
construir a oportunidade de um diálogo com os jovens? O escritor Carlos Éldani
Davissara acredita que a possibilidade está dentro de uma narrativa, conduzida
por um narrador que é também um personagem, ele é quem estabelece a ponte entre
a protagonista e o leitor no romance Penumbrosa
(Penalux:2017):
Se você está se propondo a ler esta história, nada
mais natural do que nos cumprimentarmos, não? Afinal, o laço que une quem conta
uma história e quem a escuta ou lê é algo mágico e digno dos maiores
cumprimentos.
E que tal cumprimentar também a heroína desta
aventura? Quando ela quer, ela até que é bem educada... (pg11).
A
estrutura dos capítulos é curta, terminando em conflitos, os quais serão
resolvidos no capítulo seguinte, retomam a tradição dos folhetins, mas numa
comparação contemporânea, pode ser com a das séries televisivas, pingando em
conta-gotas o tom de aventura presente na obra.
Diários
são objetos comuns ao universo da adolescência, um caderno quase diário, é uma
das boas criações da obra, a incompletude de uma frase que começa com Hoje eu só queria..., em parceria com o
lápis e a borracha a reconstrução contínua do desejo da garota inquieta.
O
cenário das aventuras é a escola, espaço natural de conflitos com valentões
(Raíssa e Letícia), um diretor que pega no pé (Sr. Pellagio), amigos (Daniel e
Júlia), professores estranhos (Dona Rita, Sr. Wilson, Dona Margot).
Alice,
de Lewis Carrol, seguiu o coelho para cair num mundo nonsense, Bete seguiu um rato, encontrou os mistérios que respondem
os porquês das mutações de seu pai, Sr. Augusto penumbrosa (um homem com pelos
excessivos por todo corpo), as Tritias (uma tia com três cabeças), Quimera (um
cão com asas), nesta parte oculta do mundo, ela também encontra respostas sobre
o desaparecimento de sua mãe.
Toda
aventura que se preza tem um vilão, em Penumbrosa
este papel é ocupado pelo médico Dr. Deodato, um homem que nutre uma paixão
doentia por Viviane (mãe de Bete), sentimento responsável pela tensão presente
na obra.
Carlos
traz para a literatura um diálogo franco com a cultura pop, os cascudos que
Bete recebe do pai, assemelham-se aos que Chaves recebe de seu Madruga, os
jogos umbrais criados pelo Dr. Deodato podem remeter a franquia Jogos vorazes, ou aos Jogos mortais, sem a carnificina da obra
cinematográfica, o duelo de dança em meio a uma briga, possivelmente dialoga
com o videoclipe de Bad, de Michael
Jackson, quem tem um personagem que o homenageia (Michael Catson), assim como
Larry Bird (na obra torna-se Larry Birdcat), ex-jogador de basquete da NBA.
Embora
a aparência física das personagens tenha importante papel na trama, Bete sofre
com a ausência da mãe que foi embora, quando ela ainda era pequena, pensa em
como fugir das perseguições das valentonas que para piorar são filhas do
diretor da escola, constrange-se com o flerte inocente do amigo, nada diferente
da vida de qualquer adolescente. Se escavar direitinho, será possível perceber
que arás dos elementos fantásticos, está a vida e seu pulsar cotidiano.
1 Comentário
Meu amigo Fernando, obrigado pela leitura e comentários generosos! Fico feliz pela sua imersão na obra, extraindo dela essas valiosas reflexões. Sigamos na luta! Valeu pelo apoio de sempre, camarada! Grande abraço!!!
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