Ei. Psiu. Aqui
- Ei. Psiu. Aqui ó.
- O que?
- Aqui, olhe para baixo na borda do prato.
- O que? Você de novo?
- Por que de novo?
- Oras, por que. Não estava outro dia dançando
na borda do prato como uma exibida?
- Ah! Você está falando da minha irmã.
- Irmã?
- É! Minha irmã...
- Ora veja só! Não sabia que arroz tem irmã.
- Tem sim.
- Estou delirando novamente.
- Não está. Tem arroz caseiro, arroz a grega, a
arroz a mineira, arroz carreteiro, risoto, arroz de queijo, arroz caipira...
- Está bem.
- Então deve ter falado com a minha irmã, arroz
branco. Ela é exibida, não tem atrativos nenhum, por isso fica dançando na
borda do prato.
- A é? E você o que é?
- Sou arroz a grega que você mais gosta.
- Uhm sabe até o meu gosto.
- Claro sempre pede filé de frango com arroz a
grega.
- Estou ficando doido, não pode ser.
- Olha quero lhe dizer uma coisa.
- Arroz falando comigo, dá para imaginar?
- E por que não? Não tem aquele escritor
alemão, como o nome dele, ah! Gunther Grass que falava com barata ou descascava
cebola? Não sei.
- O autor do O Tambor.
- Isso mesmo.
- Oh livro chato.
- Então se ele falava com a barata ou
descascava cebola, não sei, então por que você não pode falar com um arroz, e
olha lá, arroz a grega.
- Deveria falar em grego, né, ahahahahaha!
- Deveria falar em grego, né, ahahahahaha!
- Engraçadinho, detesto piada americana.
- Ah! Até que foi uma boa piada.
- Bom quero dizer uma coisa para você.
- Ah É?
- É sim.
- E o que é?
- Você está apaixonado.
- Endoidei de vez. Um arroz insignificante
falando que estou apaixonado.
- Está sim.
- Está sim.
- E como sabe que estou apaixonado?
- Como sei não importa, o que importa é que eu
sei e sei por quem você está apaixonado.
- Vamos encurtar o suspense e diga por quem
então.
- Não posso.
- E por que não pode?
- Por que acabou o tempo do escritor.
- Acabou o tempo dele?
- É. Amanhã volto a falar com você.
- Está bem, amanhã neste mesmo bat local e bat
horário.
- Certo. Só que você precisa pedir arroz a grega, não esqueça.
- Certo. Só que você precisa pedir arroz a grega, não esqueça.
- Não esquecerei.
(Realmente acho que estou ficando louco preciso
consultar um psiquiatra – disse a meia voz, saindo do restaurante.)
Pastorelli
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