terça-feira, 27 de novembro de 2012

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Questões de naufrágio




Buscava algo?
Examinava sua função como professor e aluno, como leitor e escritor e se via constituído por clichês. Homem clichê. E sufocava. Sufocava no ar perfeitamente respirável das instituições, das morais, das religiões, das palavras de ordem, das imagens apelativas.
Precisava naufragar, encontrar a fórmula de Bartleby, I woul prefer not to... encontrar este espaço de indeterminação, de indicernibilidade. Ponto zero, mas entendia que devia voltar. A consumição não era a resposta. Tinha de ser ambas personagens, aquelas  “originais” como queria Deleuze. Intensidade e densidade em forma absoluta. Demônios como Ahab, que traindo todos e tudo, enfrenta seu inimigo escolhido, ou anjos como Bartleby que  sem escolher nada, colocando-se nessa situação de impossibilidade através de sua fórmula, acaba levanto todos ao seu redor no redemoinho de  seu nada. Mas também aquelas que vêem o abismo. Aqueles que ficam na borda como Ismael ou o Advogado de Bartleby.
Era assim que o Leitor-escritor buscava o naufrágio.  E era assim que pensava a educação. Via a necessidade de um grande naufrágio como forma de relação, como forma de buscar EXPERIÊNCIAS outras que possibilitassem novas formas de relacionamento com a instituição.
Assim como dava sentido a sua experimentação com literatura, filosofia e educação, percebia que ainda nada se sabia do que um corpo era capaz. O que pode um corpo?
Com muita clareza eram definidas e canonizadas as “possibilidades” desse corpo, mas e as ditas”impossibilidades”?
Bartleby anula-se e resiste, criando um espaço novo, diferente, possibilitando a trajetória de uma nova letra, letra cheia de possibilidades para significar o ainda não-significado, o ainda não-dito. Grande nada virtual? Repleto de tudo? Possibilidades.
Ahab golpeia-se até a morte, pois é a própria baleia. Arranca de si todos os clichês, todos os discursos e afunda na agramaticalidade de uma língua que se criará. Língua-devir.
Mas é através dos narradores que estas histórias são contadas, ditas, percebidas e significadas. O leitor-escritor sabe que deverá resistir ao vórtice caótico, que deverá se despregar do mastro da bandeira que afunda com o Pequod, pois assim como Ismael, deverá a partir daí enxergar e fazer, significar e falar através da imagem da intensidade, na relação com o risco, no encontro dos corpos e dos agenciamentos possíveis.


1 Comentário

Jorge Xerxes

Ronie Von,

Gostei Muito do seu Questões de naufrágio: Reflexivo e Instigante!

Com destaque especial para o parágrafo final.

Um Grande Abraço! Jorge