Para Márcia Barbieri e Daniel Lopes
O texto escrito
no girar constante dos pneus capta imagens fotografias-móbiles estampadas nos
vidros do carro. Paradas com pessoas e comidas abastecem a vontade de se chegar
aonde se almeja.
O calor que
incomoda um pouco nos lembra que ainda somos humanos, e mais do que ideias,
palavras, ou qualquer forma de arte, faz renascer em nós a obra finita do
corpo-coisa-incômoda.
Leitura de
placas confusas, caminhos encontrados enquanto nos encontramos perdidos, também
fazem parte do percurso. Retomada do itinerário oficial: segurança. Ansiedade
para ter em mãos o objeto desejado. Mais alguns quilômetros percorridos, no
interfone a voz do outro anuncia que a viagem não foi em vão. Enfim, temos em
mãos a máquina de escrever que chega depois de tantas estórias.
Letras sob
hastes de metal, socam a folha em branco como se quisesse trazer a obra na
marra do seu recanto oculto. Teste feito, tudo funcionando direitinho. O
objeto-bebê repousa no porta-malas, muito bem acondicionado.
Na volta,
paciência no engarrafamento, a serra que sobe as pessoas para a cidade cinza,
nos nina vagarosamente, mas nós bebês rebeldes queremos acelerar, esquecendo
que o caminho não é feito só de velocidade.
Luzes que no
meio da noite tornam as paisagens conhecidas em beleza misteriosa. A visão
começa a reconhecer o local que nos cerca e nós andarilhos do destino brincando
de cabra-cega, tateando a estrada, desviamos, porque é chato acertar de
primeira, não é?
Em casa, o
agradável encontro com os outros que nos tornamos ao longo do percurso.
2 comentários
PÔ Fernandinho, vc transformou essa maluquice num poema. Valeu, parça, abço!
Que bom que o tempo não muda a falta de uma síntese ocultada nas partes de beleza cotidiana ou de palavras redescobertas em seu uso.. tudo faz um sentido imenso quando o passado bate a porta e se faz presente. O tempo é o melhor tema, ainda pra este velho amigo....
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