Tiro um crocodilo da boca, sem nenhum esforço. Os relâmpagos partem
dos meus dedos como se ali tivessem passado toda a sua existência.
Jarros e guarda-chuvas brotam dos meus bolsos com naturalidade.
Dependendo do meu humor, meus olhos lançam chamas azuis ou
verdes.
Não posso evitar nada disso; sou assim desde sempre. Meus pais
ganharam fortunas me exibindo. Eu, de fato, ganhei apenas poeira e
sol. Mamãe só expressava o seu amor por mim aos tapas. E meu pai
nunca teve olhos de me ver. A criança que eu fui se perdeu no
calendário. Minha juventude é névoa. Sou apenas isso hoje: um homem
que fala gafanhotos.
Um dia, é claro, me cansei da família e dos espetáculos. Fui para o
mundo tentar ser comum. Mas no escritório onde trabalhei todos
ficaram chocados com as cobras que surgiam dos meus sapatos. Fui
garçom por dois dias, apenas; nenhum cliente gosta de um sujeito que
serve meias de seda e alicates junto ao prato principal.
Acabei, portanto, voltando ao mundo dos espetáculos. Agora ganho a
vida no circo que me abrigou. É o lugar que me cabe na terra. Gente de
todo lugar vem me ver. Ficam maravilhados com as bugigangas que
brotam do meu corpo. Eu me apresento, agradeço os aplausos e me
retiro para o camarim. A sós, diante do espelho, de mim brotam apenas
lágrimas e tédio.
dos meus dedos como se ali tivessem passado toda a sua existência.
Jarros e guarda-chuvas brotam dos meus bolsos com naturalidade.
Dependendo do meu humor, meus olhos lançam chamas azuis ou
verdes.
Não posso evitar nada disso; sou assim desde sempre. Meus pais
ganharam fortunas me exibindo. Eu, de fato, ganhei apenas poeira e
sol. Mamãe só expressava o seu amor por mim aos tapas. E meu pai
nunca teve olhos de me ver. A criança que eu fui se perdeu no
calendário. Minha juventude é névoa. Sou apenas isso hoje: um homem
que fala gafanhotos.
Um dia, é claro, me cansei da família e dos espetáculos. Fui para o
mundo tentar ser comum. Mas no escritório onde trabalhei todos
ficaram chocados com as cobras que surgiam dos meus sapatos. Fui
garçom por dois dias, apenas; nenhum cliente gosta de um sujeito que
serve meias de seda e alicates junto ao prato principal.
Acabei, portanto, voltando ao mundo dos espetáculos. Agora ganho a
vida no circo que me abrigou. É o lugar que me cabe na terra. Gente de
todo lugar vem me ver. Ficam maravilhados com as bugigangas que
brotam do meu corpo. Eu me apresento, agradeço os aplausos e me
retiro para o camarim. A sós, diante do espelho, de mim brotam apenas
lágrimas e tédio.
2 comentários
Muito, muito bom!
Abração
Evandro
Parreira,
Gostei de Seu Camarim: Inusitado e Criativo!
"Não posso evitar nada disso; sou assim desde sempre"
"Eu, de fato, ganhei apenas poeira e sol."
Um Forte Abraço! Jorge X
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