PERFIL
Ela era magra e alta. Seus olhos
tinham a profundidade dos oceanos de Poseidon, mas tão negros que a pessoa que
os encarasse sentia, naquele exato momento, que carregaria pra sempre um enorme
e latejante vazio dentro de si. Ela era branca e cinza, já que as sombras das
vestes desenhavam contornos trágicos em seu rosto lívido e conferiam ao seu
estar uma espécie de poesia maldita. Ela era fria e terna. Era ela e não era. Sua fala era oração, e o cheiro acre que exalava
do pescoço – coberto pelas vestes – fazia a melodia. Tinha as mãos enrijecidas
e grandes nós nos dedos, e eram tantos que se podia perder a lucidez ao
observá-los. Uma delas aconchegava e alentava as criaturas: as dos vazios e as
das loucuras, as entorpecidas e as devotas. E a outra mão segurava a foice.
***
Mariela Mei é poeta e escritora. Bloga em gracadesgraca.com
Para saber mais ou ler outros textos da autora, clique em aqui
Para saber mais ou ler outros textos da autora, clique em aqui
7 comentários
sinistro, trágico, poético e mariela mei com suas palavras habilidosas! beijos
Muito obrigada, Pablo!
É ela, trágica e tão bela... ;)
Beijos
Remeteu-me para uma praia em alguma esquecida ilha grega, onde nasciam as tragédias.
:) Obrigada! Ótimo quando a literatura nos envia para algum lugar! E este, então... !!!
Dona Parca sempre implacável!
Simplesmente demais. Mariela é muito hábil com as palavras.
Obrigada pela leitura e pelos comentários, Mané e Anderson! Beijo grande!
Postar um comentário