Já que cansei os
de casa com esse assunto, essa enfadonha (para os familiares!) compulsão de
comentar a dispersão virtual das pessoas nos restaurantes, locais públicos e,
certamente, em suas próprias residências, me calo e passo a bola para a mesa, dessa
agradável cantina italiana, que frequento regularmente:
‒ Sou muito
discreta, passo geralmente despercebida aos que me utilizam como apoio, e, por
estar sempre no mesmo lugar (salvo as mudanças de alguns metros durante a
limpeza da cantina ou quando me junto a minhas companheiras para acolher grupos
maiores), posso dizer, sem possibilidade de erro, do retrocesso que ocorreu na
interlocução humana nos últimos quinze
anos.
Como o espaço é curto,
e o tempo de vocês está cada vez mais escasso, vou dar apenas um exemplo: ontem
mesmo, sentou-se às minhas companheiras
de serviço, um casal com três filhos. Fiquei na expectativa – no maior silêncio
– para desfrutar daquele convívio familiar (insisto em ser otimista – já me
disseram as cadeiras).
Após os
primeiros comentários, enquanto decidiam por uma entrada, bebidas e prato
principal, repetiu-se a cena de sempre, infelizmente para vocês, como se fosse
uma verdadeira epidemia. E é uma epidemia, para qual dou o diagnóstico de
“Síndrome da pseudopresença”. Eles sacaram de seus aparatos tecnológicos,
verdadeiras armas de aniquilamento em massa da troca efetiva de afeto. O pai,
no celular, discutia algum assunto chato de trabalho (meu amigo ... são oito da
noite...) sempre inadiável ... Como não ouvia bem, levantou-se e foi para fora
do restaurante e só retornou quando o garçon o avisou de que o jantar estava
servido. A esposa... Ligou para uma
amiga e começou uma conversa animada sobre a academia do dia seguinte e algo
(não entendi direito) sobre um casal da mesa ao lado.
A filha mais
velha apoiou-se em mim e com o Ipod em
mãos, submergiu no Facebook. O filho do meio arriou-se sobre minha companheira
e ficou jogando no seu Ipod. O filho
pequeno ... Coitadinho do filho pequeno ... Sobrou um filminho que a mãe
colocou no Tablet para passar o tempo
...
De repente, uma
surpresa, a filha reclamou para a mãe: “Mãe ... Meu irmão tá me
cutucando... Manda ele parar!”
Olha ... se tem
uma coisa de que gosto (sou uma mesa voyeur
) é ficar espiando tudo que se passa por baixo de meu vestido... Mas não tinha
acontecido nada, as pernas das crianças estavam distantes, mal encostavam em
minhas pernas...
A explicação,
para essa mesa desatualizada que vos fala, veio como um balde de gelo entornado
sobre minha cabeça: o menino entrou no Facebooke ficou atrapalhando
o diálogo de sua irmã com as amigas. É, nada mudou ... Ou melhor ... Tudo
mudou.
Foi-se o tempo em
que as crianças faziam cócegas em minhas costas desenhando ou jogando o jogo da
velha; que, de tão animadas, chutavam minhas canelas e os casais se acariciavam
com os pés me fazendo sentir uns
arrepios...
Bom, acho que
não preciso dizer mais nada. A uma mesa de restaurante, todos os dias, cabe
aguardar o final da refeição, quando os virtuais presentes retornam do mundo
sentados em suas cadeiras voadoras ...
Espero ter sido
útil aos mais sensíveis.
Para mim, só
resta uma esperança: ser vendida para algum boteco, ouvi dizer que, pelo menos
por lá, ainda se mantêm papos animados, do tipo olho no olho.
Jorge Elias Neto
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